Solene Vigília Pascal da Ressurreição do Senhor

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Material para catequese
Material para catequese

“Alegrai-vos!” (Mt 28,9)

Celebramos no sábado santo para o domingo a grande Vigília Pascal. É a mãe de todas as vigílias e a mais importante do ano. Nessa vigília, o Círio Pascal é abençoado, renovamos as nossas promessas batismais quando somos lavados e purificados pelas águas do batismo que sobre nós é aspergida. O itinerário quaresmal nos convida a renascer para uma vida nova na Páscoa. Com a celebração da Páscoa, temos a certeza por meio da da fé de que, como Cristo ressuscitou, nós também ressuscitaremos.

Com a celebração da Solene Vigília Pascal, chegamos ao cume do Tríduo Pascal, iniciado na quinta-feira. Através do Tríduo Pascal, participamos inteiramente do mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Como cristãos católicos, temos que participar de todo o Tríduo Pascal, além do Domingo de Páscoa. Pois, no Tríduo Pascal está concentrado o mistério da nossa fé.

A Vigília Pascal deve ser celebrada após as 18h, pois a Vigília deve ser celebrada ao anoitecer, à noite ou de madrugada. Por motivo de segurança, as paróquias costumam celebrar a Vigília Pascal até as 20h, mas nosso Senhor ressuscitou de madrugada. A celebração da Vigília Pascal é longa, dura em torno de duas horas e meia, pois ela é dividida em vários momentos que retratam toda a história da salvação. Por isso, as paróquias celebram até as 20h, para que todos os paroquianos possam participar.

Quem vai na Vigília Pascal não está isento de participar da missa do Domingo de Páscoa, pois as liturgias são diferentes. Na vigília, recordamos toda a história da salvação até chegar em Jesus Cristo. A liturgia do Domingo de Páscoa retrata mais propriamente a ressurreição de Jesus e as leituras são do Novo testamento.

A Vigília Pascal traz uma série de significados especiais. A celebração começa do lado de fora da Igreja e acontece a benção do fogo novo. O Círio Pascal é abençoado e aceso nesse fogo novo. O Círio Pascal representa o próprio Cristo e o fogo novo que é abençoado e acende o Círio significa a Luz de Cristo. Devemos refletir essa luz a quem encontrarmos. Por isso, cada fiel acende a vela que trouxe para a celebração no Círio Pascal, representando que a luz de Cristo deve ser difundida. Após acenderem as velas no Círio, todos são convidados a entrarem em procissão na Igreja. O Padre ou o diácono entram por último e, conforme entram na Igreja, dizem por três vezes: “Eis a luz de Cristo”. Os fiéis respondem: “Demos Graças a Deus”.

Após a entrada do Círio Pascal na Igreja, acontece a proclamação da Páscoa, ou seja, a proclamação da ressurreição do Senhor. Nesse momento, acendem-se as luzes da Igreja pois é proclamada a ressurreição do Senhor. Esse cântico faz uma breve passagem histórica por toda a Sagrada Escritura até chegar em Jesus. É uma noite mil vezes feliz, como diz a própria proclamação da Páscoa. A ressurreição de Jesus significa que a luz venceu as trevas, e Ele vem para iluminar as nossas trevas. Somos convidados a ressuscitar com Cristo e sairmos das trevas.

Permitamos que o Senhor ressuscite em nosso coração, em nossa casa e em nossa vida. Que Ele ilumine a nossa casa com a sua ressurreição e a nossa família possa se libertar das trevas do pecado e deixar-se iluminar por sua luz. Que possamos nessa noite renovar os sentimentos de paz, gratidão e amor. O Círio Pascal é aceso nessa noite santa e permanecerá aceso até o Domingo de Pentecostes. São 50 dias que viveremos as alegrias da ressurreição. Após Pentecostes, o Círio só será aceso nas celebrações de Crisma, Primeira Eucaristia, batizados e nas exéquias. O Círio significa ainda a vida nova em Cristo, somos mergulhados nas águas do batismo e ressurgimos novas criaturas.

Após a entrada do Círio Pascal e a proclamação solene da Páscoa, acontece a segunda parte dessa missa, que é a liturgia da Palavra. Os fiéis são convidados a apagarem as suas velas e guardarem, elas serão acesas em outro momento da celebração, na renovação das promessas do batismo.

Nessa noite são proclamadas nove leituras, contando com o Evangelho, pois retrata toda a história da salvação até a ressurreição de Jesus. A Páscoa cristã advém da Páscoa judaica, as duas estão intimamente ligadas. A Páscoa judaica significa a passagem da escravidão para a liberdade, ou seja, recorda quando o povo judeu foi liberto por Deus da escravidão do Egito até chegar à terra prometida. E a Páscoa cristã significa a passagem da morte para a vida, recordando a ressurreição de Cristo. Por esse motivo, proclamam-se as nove leituras iniciando com a história do povo judeu até a ressurreição de nosso Senhor. Somos lembrados que não devemos ser escravos do pecado e que almejamos a vida eterna.

A primeira leitura dessa vigília é do livro do Genesis (Gn 1,1-2,2). Nessa leitura vemos como o Senhor criou o universo em seis dias e no sétimo descansou de tudo o que fez. E como ele criou Adão e Eva e os colocou no paraíso. Vemos que Deus criou o homem a sua imagem e semelhança.

O Salmo responsorial é o 103(104), e nos diz em seu refrão: “Enviai, Vosso Espírito Senhor, e da terra toda face renovai”. O Senhor criou o universo por meio do sopro do Espírito Criador. Peçamos que nessa Páscoa um novo sopro do Espírito Santo venha sobre nós.

A segunda leitura, também tirada do Livro de Gênesis (Gn 22,1-18), mostra como Abraão foi fiel a Deus, e o Senhor promete a Abraão que tornaria a sua descendência maior do que as estrelas. Que possamos ser obedientes a Deus e ouvir a sua voz, antes de tomarmos alguma atitude. O salmo responsorial referente a essa leitura é o salmo 15(16), que diz que o nosso refúgio e proteção é o Senhor, nos momentos de dificuldade e quando estamos diante do pecado, Ele nos acolhe.

A terceira leitura tirada do livro do Êxodo (Ex 14,15-15,1) mostra como Deus, por intermédio de Moisés, liberta o povo que sofria a escravidão no Egito, e assim passa o povo da escravidão para a liberdade. Um dos significados da Páscoa é a passagem da escravidão para a liberdade, depois a partir da ressurreição de Jesus, tem um novo significado que é a passagem da morte para a vida.  A resposta a essa leitura é o cântico, extraído do livro do Êxodo (15), exaltando o Senhor pelas maravilhas que fez ao povo de Deus.

A quarta leitura tirada do livro do profeta Isaías (Is 54,5-14) nos fala da aliança que Deus fez com o seu povo, que é uma aliança eterna, que se perpetuaria por todo o sempre. É como uma aliança de casamento, apesar da infidelidade do povo, Deus permanece fiel. O Senhor promete nunca abandonar o seu povo e concretiza a aliança com o envio de seu Filho. O salmo de resposta referente a essa leitura é o 29(30), que nos diz que o Senhor nos livra de todos os nossos inimigos, basta confiarmos em sua graça.

Na quinta leitura, também extraída de Isaías (Is 55,1-11), o Senhor chama para ficar com Ele, para se deliciar do banquete que Ele oferecerá a todos nós. Nos dias de hoje, esse banquete é a Eucaristia, na eternidade sentaremos todos à mesa ao lado dele. O banquete é para todos, sem exclusão de raça, cor ou classe social. A resposta para essa leitura é o cântico de Isaías (21), que nos fala justamente da alegria de beber do manancial da salvação, que somente Deus pode nos proporcionar.

A sexta leitura é extraída do livro do profeta Baruc (Br 3,9-15,32-4,4). O profeta alerta a todo o povo de Israel para eles confiarem somente no Deus verdadeiro, ou seja, naquele que os libertou da terra do Egito e fez aliança com eles. Somente Ele tem Palavras de vida eterna.

O salmo de resposta para essa leitura é o 18(19), que justamente diz em seu refrão: “Senhor, tens palavras de vida eterna”. Devemos confiar somente em Deus e só Ele pode nos salvar.

A sétima leitura é extraída do livro do Profeta Ezequiel (Ez 36,16-17a.18-28). O Senhor alerta o povo para não adorarem deuses falsos, ou seja, não adorarem bezerros de ouro ou imagens de madeira. Somente ele é o Deus que fez um pacto com eles, e eles não devem romper esse pacto. O salmo de resposta para essa leitura é o 41 (42), que nos diz em seu refrão: “A minha alma tem sede de Deus”. Devemos sempre desejar esse Deus vivo, que nos fala por meio da sua palavra e nos alimenta por meio da Eucaristia.

Após cada leitura, é proclamado um salmo responsorial que está intimamente ligado com aquela leitura e com o mistério celebrado nessa noite. Após o salmo, tem uma oração convidando os fiéis a viverem de forma intensa esse momento. Após a sétima leitura, canta-se o hino da glória, que foi omitido durante todo o tempo quaresmal, quando então tocam-se os sinos e toda a Igreja se alegra. Após o Glória, iniciam-se as leituras do Novo Testamento, que é uma carta de Paulo e o Evangelho da noite.  

A oitava leitura é proclamada após o cântico do Glória, para fazer uma ligação do Antigo com o Novo Testamento. É a leitura da Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 6,3-11). Paulo diz que através do batismo nos tornamos pessoas novas, e se Cristo morreu para nos libertar, é em nome d’Ele que somos batizados, por meio do batismo venceremos o pecado e nos tornaremos novos homens e mulheres.

O salmo de resposta para essa leitura é o 117 (118) que éa “aclamação ao evangelho” quando se anuncia o retorno solene Aleluia: os fiéis são chamados a cantar com grande alegria, pois Cristo ressuscitou

O Evangelho é de Mateus (Mt 28, 1-10). Esse Evangelho retrata o episódio da ressurreição, quando após o sábado, no primeiro dia da semana, ou seja, o domingo, dia da ressurreição do Senhor, Maria Madalena e a outra Maria foram ao túmulo do Senhor. De repente, aconteceu um grande tremor de terra, o anjo do Senhor desceu do céu, puxou a pedra e sentou-se nela. As suas roupas eram muito brancas, como a neve. Os guardas que tomavam conta do túmulo tremeram e caíram por terra de medo.

O anjo diz para as mulheres não terem medo, pois o Senhor havia ressuscitado e não estava mais ali. Ele as convida para verem onde o Senhor estava e pede para que elas fossem depressa avisar aos discípulos, que Ele havia ressuscitado dos mortos conforme prometera. O anjo diz para elas irem com eles para a Galileia, pois lá Ele deveria aparecer a eles.

De repente, o próprio Senhor apareceu diante delas, e disse a elas a mesma mensagem que o anjo havia dito. Jesus diz: “Alegrai-vos”, pois a sua ressurreição deve ser uma alegria para todos nós. É a mesma alegria que um dia viveremos no céu.

A missão de Jesus iniciou na Galileia e ali também deveria terminar, ou seja, dali Ele deveria voltar para o Pai. Na verdade, a missão não termina, mas Jesus delega essa missão aos discípulos e deixa que o Espírito Santo os conduza. A partir do envio dos discípulos, inicia-se a Igreja primitiva.

Sejamos como as mulheres do Evangelho de hoje, saiamos correndo e anunciemos a todos que o Senhor ressuscitou. Quem sabe já ao final da missa de hoje, amanhã ou nos dias que sucedem a Páscoa, anunciemos para quem ficou em casa, no nosso trabalho, escola e comunidade, que o Senhor ressuscitou. Ele vive, venceu a morte e está no meio de nós. Celebraremos ao longo de 50 dias a Páscoa da ressurreição e essa alegria que a ressurreição nos traz não pode ficar apenas em um dia, mas deve se estender.

Após as leituras e homilia, acontece a terceira parte dessa grande Vigília Pascal que é a Liturgia Batismal. A sequência da liturgia dependerá se haverá ou não batizados. No caso de haver batizados, primeiro se faz a ladainha de todos os santos, depois se benze a água nova, na qual serão imergidos ou se derramará sobre a fronte do batizando. O Círio Pascal é mergulhado três vezes nessa água nova. Se houver batismo de novos catecúmenos, acontece nesse momento.

Em todas as situações, depois da benção da água, todos, com velas acesas, renovam as promessas do Batismo, renunciando ao pecado e afirmando nossa fé em Deus e todos são aspergidos com a água batismal.

Após a Liturgia Batismal, segue o rito da comunhão e a missa continua como de costume. Após a oração final, tem a grande benção final da Vigília Pascal. Recebamos essa benção da mesma forma que os discípulos receberam o envio de Jesus Ressuscitado. Que possamos sair renovados dessa Vigília Pascal, cheios do Espírito Santo, e por 50 dias celebrar as alegrias da Páscoa. Aleluia, Aleluia.

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ