Muitos torcem o nariz e fazem ouvidos moucos quando o assunto é o fim dos tempos. Mas, queira ou não, dia mais, dia menos, teremos que enfrentá-lo cara a cara, senão no âmbito universal, ao menos no campo pessoal. Eis o fim… E depois? A liturgia católica não omitiu esse assunto de seu calendário. Ao contrário, o contextualiza quase ao final do seu Ano Litúrgico, publicando com todas as letras o pensamento claro e oportuno de Jesus, segundo a narrativa de Lucas (21, 5-19). Nem o majestoso templo, ornado e edificado com belas e gigantescas pedras, será poupado. Não ficará pedra sobre pedra. Então os incrédulos vaticinam: “Quando acontecerá isso?”.
Milênios já se passaram. O templo de Jerusalém não resistiu. O templo-vivo, todavia, o sacrário humano que a vida cristã diz ser aquele que acredita – o homem de fé, templo do Espírito Santo – esse ainda perambula por aí, em meio à cegueira do mundo, com força e vitalidade imorredoura. Donde provêm tantas e tamanhas energias? Essas que se sobrepõem a tantos e tantos cataclismos, fatalidades, perseguições, incompreensões, intolerâncias e injustiças? Como foi possível ao cristianismo sobreviver a tudo isso, mesmo quando o fogo das adversidades era diretamente direcionado ao extermínio dos seus seguidores? Sobrevivemos e continuaremos a sobreviver ao fim.
Eis um segredo de fé. “Todos vos odiarão por causa do meu nome. Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” Não se trata só de uma sobrevivência física (quem pensa em si próprio – em sua vida apenas – sairá perdendo, morrerá com certeza), mas na vida primeira do espírito que nos governa e dá sentido à nossa existência. Essa permanece e há se sobreviver ao caos de um mundinho incerto e inseguro que aqui ocupamos provisoriamente. Sobreviver à própria morte é a esperança da fé cristã. “Quem perder sua própria vida por causa de mim, a encontrará em mim”. Na verdade, não sobreviveremos ao caos de um mundo sem Deus, mas unidos ao Cristo nos tornamos imbatíveis, imortais.
Quando novos profetas do fim dos tempos cruzarem seu caminho, reze por eles. Abençoe-os e lhes deseje a unção que nos foi dada. Quem sabe, possamos trazê-lo à realidade de um mundo muito mais afeito à vontade de Deus do que aquele que seu medo e sua insegurança apregoam por aí. O fim ainda não chegou. Nem chegará antes que tudo seja devidamente esclarecido, impregnado pela Revelação do Cristo, apregoado com suas diretrizes e suas propostas de amor levadas ao conhecimento de todos. Quando isso se der, então estaremos chegando ao fim, ao final de uma missão redentora que deve atingir o mundo todo e todos os povos. Nada se concluirá sem o discernimento da vontade própria, do livre arbítrio que nos foi dado.
Portanto, não temam, não se assustem! Profetas do fim dos tempos existem muitos e outros mais se levantarão. A cegueira do homem é questão de ignorância pura e simples, principalmente diante dos mistérios que nos rondam. Esses que só a fé e a revelação de Cristo nos faz compreender. Essa que afugenta de nossa espiritualidade o temor e a insegurança e nos torna aptos a compreender o fim como tempo de glória, alegria e ressurreição. Quando isso se der, estará chegada a Páscoa definitiva. “Não tenhais medo, pequenino rebanho”, nos exorta Jesus – pois os tempos difíceis que maculam nossa história, aqui e acolá, agora e sempre, são instrumentos de nossa purificação. A boa notícia do Apocalipse é que o Bem vencerá o Mal… e os bons sobreviverão. E a vida será Eterna!