Sexta-Feira Santa da Paixão do Senhor

Sexta-Feira Santa um dia de profundo silêncio, não de tristeza e nem de luto, mas um silêncio oracional e de confiança na ressurreição.
Material para catequese
Material para catequese

Ó Pai, em vossas mãos, eu entrego o meu espírito. (Sl 30,31)

A Sexta-Feira Santa é o segundo dia do tríduo Pascal. A Igreja celebra a paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Um dia de profundo silêncio, não de tristeza e nem de luto, mas um silêncio oracional e de confiança na ressurreição. Através do silêncio desse dia, poderemos agradecer a Deus por ter permitido o seu filho morrer para nos salvar. A Igreja estará com o altar e o ambão desnudado e com as imagens cobertas e toda a Igreja se concentrará no mistério que é celebrado nesse dia. O altar só será preparado para a comunhão e logo após será desnudado novamente. É dia de jejum e abstinência.

No início da celebração, não tem procissão de entrada. A equipe de celebração entra pela lateral da Igreja e, também, não há cântico de entrada. O bispo, sacerdote e diácono se prostram no presbitério logo que entram, em sinal da entrega de Jesus por nós. Os demais apenas se ajoelham. Esse momento pode durar alguns minutos. Ao levantar-se, aquele que preside profere a oração inicial sem falar o convite “oremos”.

Esse é o único dia do ano que a Igreja não celebra missa, mas a celebração da Paixão do Senhor. A comunhão é distribuída com hóstias consagradas que foram guardadas na quinta-feira à noite. No Sábado Santo, não há celebração ao longo de todo o dia, apenas a grande vigília da ressurreição, a partir das 18h. Ao final da celebração da Paixão do Senhor, não há benção final, apenas uma oração sobre o povo e todos se retiram em silêncio, também não há cântico final. Algumas paróquias, após a celebração, realizam a procissão com a imagem de Nosso Senhor morto e Nossa Senhora das Dores.

A primeira leitura dessa celebração é do livro do profeta Isaías (Is 52,13–53,12). Essa leitura é tirada da parte do livro do profeta conhecida como “servo sofredor”. Esse trecho do livro do profeta Isaías é lido, sobretudo, durante a Semana Santa, no Domingo de Ramos, Segunda-Feira, Terça-Feira, Quarta-Feira e Sexta-Feira da Semana Santa. O Servo Sofredor se assemelha à figura de Jesus, pois é aquele que sofre em silêncio e acaba sendo condenado por praticar a justiça e anunciar o Reino de Deus. Esse que é condenado injustamente pelos homens, será glorificado perante Deus. O Servo Sofredor é aquele que acaba morrendo para salvar os outros, como acontece com Jesus, que abraçou a morte na Cruz a fim de salvar a humanidade inteira. O Servo sofredor intercede em favor dos pecadores e resgata o pecado de todos.

Durante a missa, rezamos: “Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós”. Esse Cordeiro pode ser comparado ao Servo Sofredor e, é claro, a Jesus. Ele tira o pecado do mundo para nos conceder a paz e a salvação. A partir da morte, e posterior ressurreição de Jesus, não é mais necessário imolarmos o cordeiro “animal” para a Páscoa, mas agora o cordeiro pascal é “Jesus”.

O salmo responsorial é o 30 (31). Esse é um salmo de entrega da vida nas mãos do Senhor. Devemos colocar toda a nossa esperança em Deus e confiar em sua misericórdia. O refrão do salmo diz: “Ó Pai, em vossas mãos, eu entrego o meu espírito”. O próprio Jesus no momento de sua entrega na cruz profere o refrão desse salmo. Coloquemos a nossa esperança em Deus, pois se os homens nos desprezam, Deus nos eleva.

A segunda leitura é da carta aos Hebreus (Hb 4,14-16; 5,7-9). O autor sagrado diz que temos um sumo sacerdote eminente no céu, que intercede por cada um de nós. Ele foi provado em tudo como todos nós, exceto no pecado. Aproximemo-nos desse sumo sacerdote e peçamos o perdão de nossos pecados. Cristo, durante a sua vida terrestre, foi obediente a Deus em tudo, dirigiu preces e súplicas e foi atendido. Através de sua obediência, se entregou na cruz para salvar a todos. Confiemos em Deus as nossas orações e seremos atendidos em nossas necessidades.

O Evangelho desse dia é a narrativa da paixão do Senhor segundo João (Jo 18,1–19,42). No último domingo, que foi de Ramos, ouvimos a narrativa segundo Mateus, o evangelista desse ano, e na Sexta-Feira da Paixão é sempre a narrativa mais longa e conhecida de todos nós que é segundo São João. Essa narrativa da paixão conta desde a condenação e prisão de Jesus até a sua morte.

Após ter lavado os pés dos discípulos e realizado a última ceia, Jesus sente uma grande angústia e vai para o deserto rezar. Os discípulos vão com ele, também Judas (o traidor) conhecia o lugar e vai até o local com um grupo de guardas e soldados. Para que eles soubessem quem era Jesus, ele combina de dar um beijo em Jesus e o próprio Jesus diz a ele: “Com um beijo tu trai o filho do homem”. Jesus fica sozinho, todos os discípulos correm diante do medo de verem Jesus sendo preso e achando que pudesse acontecer o mesmo com eles.

A partir desse momento, Jesus é preso e passa a noite no palácio de Anás, que era sumo sacerdote na época e sogro de Caifás. Anás, após interrogar Jesus, o envia a Caifás, e depois Caifás o envia ao palácio do governador. Já era no outro dia de manhã. Pilatos então interroga Jesus e não vendo em Jesus nenhum crime que o levasse à morte decide libertá-lo. E ainda diz que os próprios judeus deveriam julgá-lo, pois ele não poderia condená-lo. Então, os sumos sacerdotes dizem a Pilatos que apresentassem Jesus ao povo, junto com Barrabás e o povo escolhesse quem deveria ser condenado.

O povo escolhe por soltar Barrabás. Barrabás era um bandido que havia cometido alguns crimes, por isso estava sendo condenado. Dessa forma, o povo escolhe que Jesus fosse condenado à morte. O mesmo povo que havia aclamado Jesus ao entrar em Jerusalém, no Domingo de Ramos. A partir disso, Jesus é flagelado, tecem nele uma coroa de espinhos e colocam um manto vermelho. Dão a Jesus uma cruz para que ele carregasse durante o caminho até o calvário.

Ao carregar a cruz, Jesus carrega as dores e os sofrimentos do mundo inteiro, por meio de sua morte na cruz, Ele nos salva do pecado e nos dá a garantia da vida eterna. Entreguemos à cruz de Cristo nossas dores e sofrimentos. Que tenhamos forças de carregar a nossa cruz do dia a dia e trilhemos o caminho de santidade.

Entreguemos à cruz de Jesus tantas pessoas que passam fome, para que possam ter o alimento diário na mesa. Que possamos olhar para as necessidades do próximo e tenhamos mais amor por nossos semelhantes. Jesus, ao morrer na cruz, nos ensinou a maior prova de amor, preferiu morrer na cruz para nos salvar. Que possamos ter um olhar de amor para o nosso próximo e ajudá-los em suas necessidades. Que a Campanha da Fraternidade sobre a fome não termine ao final da Quaresma, mas continue ao longo de todo o ano.

A cruz deve ser o sinal da nossa vitória e da nossa redenção, não adoramos um Deus “morto”, mas um Deus vitorioso. Sabemos que na Sexta-Feira Santa ele morreu, mas ressuscitou no Domingo de Páscoa. Durante a celebração da Sexta-Feira, nós adoramos a cruz, mas no intuito de que por meio dela, nos adveio a salvação.

Celebremos cheios de esperança essa Sexta-feira Santa, pedindo ao Senhor que nos liberte de nossos pecados e nos ensine a carregar a nossa cruz do dia a dia. Que Ele que nos abriu o caminho da ressurreição possa nos ensinar o caminho para adentrarmos a vida eterna.

O tríduo Pascal, que teve início na Quinta-Feira Santa e culmina no Sábado Santo e se encerra com as vésperas do domingo da ressurreição, concentra todo o mistério da nossa fé, que é a paixão, morte e ressurreição de Jesus. Participemos todos os dias da Semana Santa, passando pelo calvário até chegar à glória da ressurreição. Que ao celebrar a Páscoa, possamos ressurgir com Cristo para uma vida nova e cheios da graça de Deus. Amém.

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ