Nós que nascemos na roça e conhecemos o ritmo das plantações e da natureza, que em primeiro lugar precisa da graça de Deus para a chuva na medida certa e o calor sem seca, para que os frutos da terra possam dar seus frutos, entendemos bem a liturgia deste 15º. Domingo do Tempo Comum, que poderia ser resumido como “A Palavra de Deus é a semente da vida eterna!”.
Jesus é o Semeador generoso que lança na terra de nossa vida a semente fecunda de sua Palavra de Salvação. Todos nós sabemos que para semear, uma atividade meramente humana, que implica certeza e confiança primeiro em Deus, sem Deus, a terra não dará frutos. Por isso semeador precisa preparar a terra, escolher a semente certa e semear a semente. Depois iremos regar e espera que a semente germine, cresça e produza os frutos desejados.
A Palavra de Deus e água são o binômio da primeira leitura: “Assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que siar de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”(Cf. Is 55,10-11) Assim como a chuva e a neve que caem na terra realizam com eficácia os efeitos desejados, asism também a Palavra de Deus proclamada tem eficácia, nos corações humanos, onde é acolhida. Por isso, no Salmo Responsorial cantamos: “A semente caiu em terra boa e deu fruto!” É a ação de graças do Salmista que eleva a Deus com o seu cântico de louvor, porque Deus visitou a sua terra e a fez dar os frutos necessários à vida humana. Deus seja louvado.
No Evangelho, que Jesus narra a parábola do semeador que saiu para semear(Mt 13,1-23) Com a parábola do semeador e da semente, Jesus nos dá a entender que a mesma qualidade da semente pode apresentar resultados diferentes. A centro é a qualidade do terreno, que é o nosso coração humano. Quando nosso coração é receptivo a semente vai produzir frutos na base de 100, de 60 e de 30.
A palavra de Deus, chama-se palavra de Jesus, também apresentada na imagem da semente e da terra, no conhecido ensinamento de Jesus: a Parábola do Semeador. Na história de um semeador que saiu a semear encontramos quatro cenários em que as sementes caíram em quatro lugares diferentes: à beira do caminho, em solo pedregoso, entre espinhos e, por fim, em terra boa, a qual contrasta com os demais. O recurso literário 3 elementos + 1 é usado na poesia hebraica para ressaltar o último, no caso, a terra boa. O que isso significa? A parábola tem a força moral de ensinamento. Jesus, ao falar em parábola, coloca-se na mais pura tradição judaica. A parábola fala do cotidiano das pessoas, transformando-o e chamando a atenção para uma problemática, deixando o ouvinte pensativo. Não por menos, os discípulos questionam Jesus pelo fato de ele falar-lhes em parábolas (v.10-16). Os cristãos deviam voltar a sua atenção para o interno da comunidade, o terreno, não da semente, mas de seus corações, e se perguntarem pelo modo como eles estavam sendo coerentes com a proposta do Reino. A parábola ressalta, assim, as dificuldades já previstas por Jesus: superficialidade, simbolizada na semente que é lançada à beira do caminho; perseguições políticas, representadas na terra pedregosa; deixar-se seduzir pela riqueza e estruturas políticas e econômicas, semente que é lançada entre espinhos. Na outra ponta da linha está o exemplo de cristão-terra boa, aquele que compreende a proposta da palavra do reino pregada por Jesus, produz frutos e não desanima nunca.
Na segunda leitura(Rm 8,18-23) a criação está esperando ansiosamente o momento de se revelarem os filhos de Deus. A imagem do sofrimento do parto, associado ao Espírito que intercede por nós, retoma a mesma mensagem da esperança da primeira leitura e do evangelho. A mulher sofre para dar à luz uma nova vida. A mulher é terra, é mãe! A nova comunidade de fé foi gerada pela força da palavra e será perpetuada pela presença do Espírito. Mas, para que tudo isso aconteça, é preciso que o cristão aja em favor da vida, gerando um novo tempo, sabendo que o tempo futuro, em Deus, será a consequência de sua ação realizada no presente.
São Paulo aponta uma desproporção entre os sofrimentos do tempo presente e a glória futura, que nos está reservada. Por isso o batizado verá a realização dessa esperança de vida, da qual participa também a Criação, embora os humanos a vivam agora, mediante a fé.
Para semear a Palavra de Deus devemos colocar em prática aquilo que Santo Agostinho asseverou: “Arranquemos os espinhos, preparemos o terreno, recebamos a semente, aguentemos até a colheita, aspiremos a ser arrecadados nos celeiros”. Neste domingo em que celebramos a memória de Nossa Senhora do Carmo coloquemos nossos olhos fixos na Virgem Santíssima. A Virgem Maria é o sinal vivo desta verdade, porque Ela semeou a Palavra de Deus. O seu coração foi “terra boa” que acolheu com plena disponibilidade a Palavra de Deus, de modo que toda a sua existência, transformada segundo a imagem do Filho, foi introduzida na eternidade, alma e corpo, antecipando a vocação eterna de cada ser humano. Agora, na oração, façamos nossa a sua resposta ao Anjo: “Faça-se em mim segundo a tua vontade” (Lc 1, 38), para que, seguindo Cristo pelo caminho da Cruz, possamos alcançar também nós a glória da ressurreição.