Celebramos, nesta terça-feira, 27 de setembro, a memória litúrgica de São Vicente de Paulo, padroeiro das associações de caridade. O trabalho social é grande na Igreja e tem várias denominações. Recordemos da missão dos diáconos na igreja primitiva. Porém os carismas ajudam a revigorar elementos essenciais da Igreja. São Vicente de Paulo é bem lembrado em nossas paróquias e comunidades por meio da presença dos vicentinos que foram institucionalizados por Frederico Ozanam com a inspiração vicentina. Os vicentinos, seguindo o carisma de São Vicente de Paulo, servem os mais carentes auxiliando na distribuição de alimentos, roupas e calçados. Eles são os responsáveis pelas Sociedades de São Vicente de Paulo (SSVP) espalhadas por todo o Brasil com as Vilas Vicentinas ou Lares de Idosos Vicentinos, expressão da caridade para com os idosos e vulneráveis.
Os vicentinos são extremamente fundamentais em nossas comunidades, pois está no cerne da Igreja servir aos mais pobres. São Vicente viveu de forma intensa o Evangelho de Cristo e cumpriu o mandato de Jesus de servir aos pequeninos do Reino. São Vicente reacendeu na Igreja a necessidade de olhar para os mais pobres e cumprir o mandato de Jesus.
Nos dias de hoje, sobretudo na pós-pandemia da Covid-19, muitas pessoas ficaram desempregadas e, consequentemente, com problemas financeiros. Com a alta de preços dos alimentos, inclusive dos itens básicos, ficou difícil para uma família se manter. Por isso, aumentou muito o número de necessitados em nossas comunidades e se faz necessário a presença dos vicentinos. Infelizmente, faltam pessoas para ajudar nessa pastoral tão importante e falta, ainda, alimentos para compor a cesta básica das famílias carentes.
Convido a todos para participar dessa pastoral tão importante na Igreja (Pastoral Social, da Caridade ou afim) e, ainda, contribuir com alimentos para compor a cesta básica das famílias carentes. As paróquias, normalmente em algum domingo do mês, fazem uma campanha para arrecadação de alimentos. Tenho certeza de que você pode doar aquilo que tem a mais para aqueles que pouco ou nada têm.
Recentemente, a Pastoral dos Vicentinos comemorou 100 anos de atuação, e se não fosse uma pastoral séria, não duraria tanto tempo. Com certeza, eles colocam em prática o mandato de Jesus e de seu fundador que é servir aos mais pobres e pequeninos do Reino. Os vicentinos auxiliam também os idosos, doentes e deficientes físicos, auxiliando com cadeira de rodas, cadeira de banho e outras coisas necessárias, sempre contando com o auxílio da comunidade.
A caridade é uma virtude cristã, é um dom de Deus, e cada cristão é chamado a exercer a caridade com o próximo. Jesus nos convida a anunciarmos a boa nova do Reino e nos chama à conversão. Essa conversão se dá, sobretudo, quando servimos os mais pobres. A Pastoral dos Vicentinos, ao longo do ano, tem formações, retiros, encontros regionais e a nível arquidiocesano. Isso se faz necessário para que todos os membros compreendam a seriedade do serviço prestado aos mais pobres.
As conferências vicentinas são fundamentais na vivência do carisma vicentino que é sempre comunitário. É importante reunir um grupo de pessoas sérias e comprometidas para formar esse grupo. A palavra pastoral vem de “pastor”, ou seja, aquele que cuida do rebanho. Dessa forma, a Pastoral dos Vicentinos cuida de uma porção do Reino de Deus.
São Vicente de Paulo nasceu em 1581, na cidade de Gasconha, uma parte da região francesa, em uma família de camponeses. Viveu a sua adolescência no campo, em certa altura apareceu um benfeitor, que lhe ofereceu a oportunidade de estudar.
São Vicente de Paulo foi ordenado padre bem cedo, com apenas 19 anos, mas só concluiu a teologia em 1604. Abriu uma escola particular para alfabetizar os mais carentes e que não tinham oportunidade de estudar, mas devido aos gastos, fechou. Durante uma viagem de navio de Marselha a Narbonne, seu navio foi atacado por piratas. Vicente de Paulo foi preso e vendido como escravo em Túnis. Depois de dois anos, recebeu a alforria, graças a um de seus patrões que se converteu ao cristianismo.
Em 1612, tornou-se pároco em uma paróquia na periferia francesa, e já começava ali um trabalho de ajuda aos mais pobres. Mas, primeiramente, iniciou os trabalhos como catequista, por designação de seu Cardeal Pierre de Bérulle. Nesse local, pôde perceber uma grande desigualdade entre ricos e pobres, não somente do ponto de vista material e social, mas moral e cultural.
A preocupação de São Vicente de Paulo com os mais pobres chegou aos ouvidos da Marquesa de Gondi, que colocou uma grande quantidade de dinheiro à sua disposição. Ela queria que fosse instituída uma obra de pregação entre os camponeses de suas terras.
São Vicente de Paulo começou a ajudar uma família doente, que não tinha o que comer, mas percebeu que quando acabasse o dinheiro, a família voltaria para a pobreza extrema. Buscou outro meio de ajudar e que fosse mais eficiente. Em 1617, nasceu a primeira célula da caridade vicentina, que foi confiada a algumas mulheres. Essas mulheres foram denominadas de servas dos pobres. O movimento cresceu de maneira extraordinária e, em tempo recorde, recebeu a aprovação do bispo de Lyon.
No mesmo ano de 1617, quando retornou a Paris, recebeu a ajuda de nobres senhoras, ansiosas por fazer obras de caridade, que quiseram contribuir financeiramente para a sua obra. Essas senhoras foram chamadas de “damas da caridade”. Elas contribuíram na construção de um hospital municipal, mas não conseguiam atender os mais humildes.
Por isso, em 1633, Vicente fundou congregação feminina Filhas da Caridade, que não seriam enclausuradas, mas seriam freiras no intuito, justamente, de ajudar os mais necessitados. As Filhas da Caridade são uma das maiores das famílias religiosas femininas da Igreja.
Espelhemo-nos na vida desse grande santo e sejamos solidários com aqueles que mais necessitam, estendendo a mão e os suprindo em suas necessidades. Contribuam levando alimentos em sua paróquia auxiliando para compor a cesta básica das famílias carentes. Se possível, além de levar o alimento, contribua com a pastoral fazendo as visitas e acolhendo os mais pobres.
Quem serve aos mais pobres, serve a Deus e garante um lugar na vida eterna.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ