A guerra surda que a humanidade trava pela sobrevivência tem dois lados: o bom e o ruim. Nestes se digladiam o bem e o mal. Mais que simples status de situações, constituem entidades espirituais a conduzir nossos passos. Para a vitória ou derrota, a alegria ou tristeza, a prática da bondade ou da maldade. Nisso tudo se insere a vida humana, cuja história será escrita de acordo com a opção individual, o livre arbítrio que nos permite escolhas certas ou erradas. Nesse fuzuê entra a religião destinada a separar o joio do trigo e a Igreja na ajuda de uma definição sobre o melhor caminho, o embate mais apropriado. Essa é a razão do cristianismo ter sido definido, em seu início, como O Caminho.
Essa definição, no entanto, não denigre ou desmerece a ação doutrinária de qualquer outra religião, desde que nesta se manifestem princípios de Temor a Deus e respeito à sua Verdade. São muitos os caminhos, muitas as ovelhas de outro aprisco, mas o pastor apela à unidade e conduz seu rebanho a um único redil; aquele onde o bem vence o mal. Essa é a amplitude da fé, que vai além da confusa definição que dela fazemos, quando afirmamos com todas as letras ser a nossa religião, a nossa Igreja, a verdadeira, a mais coerente, a escolhida…
Todavia, Cristo um dia afirmou que sua vinda tinha uma finalidade primária: reunir seu povo como um pastor reúne seu rebanho. Colocar esse povo a salvo das alcateias do mundo, onde a voracidade famélica de muitos lobos está sempre à espreita. Cordeiros e lobos nos dão bem a ideia de um cenário de guerra. O inimigo sempre atento, mas o bom pastor idem. Por isso é poética a figura desse pastor e dessas ovelhas por ele protegidas. Como também poética é a imagem de um rebanho assim posto a salvo. Um rebanho obediente ao comando do pastor, que conhece a tonalidade, a suavidade de sua voz, o assobio de alerta, o grito quando necessário ou mesmo o sorriso de alivio ou de alegria ao salvar um dos seus. Seu cajado não só espanta o lobo, como também aponta o caminho, determina os passos do rebanho.
Por outro lado, o inimigo não dá tréguas. Não é a realidade urbana, mas o simbolismo de uma alcateia de lobos constitui uma imagem de terror e ameaças constantes. O lobo, por si só, representa perigo, destruição, morte. Seus dentes afiados, seu olhar penetrante, seu olfato aguçado, sua destreza, suas ações sorrateiras, seu uivar esganiçado, tudo nele constitui elementos apavorantes para qualquer ovelha indefesa. Estas, afinal, são o prato preferido no cardápio de uma alcateia. Nesse meio, contraditoriamente, Jesus coloca sua Igreja, ovelha entre lobos. Se a intenção de Jesus era mesmo nos salvar, por que não nos afastou de imediato desses perigos? – você pode estar se perguntado agora. Retomo o início: porque somos livres, a escolha é nossa, o caminho da vida ou da morte é o indivíduo quem faz, não a Igreja, não sua religião, seja esta cristã ou não. Mas os passos quem os dá é a ovelha, apreensiva com o lobo, mas segura nas mãos de seu Bom Pastor.
Por essa e outras é que reafirmo ser a fé o alimento de um rebanho que confia em seu pastor. Como membros de um rebanho protegido, não tem porque não encarar desafios maiores. A alcateia dos lobos mundanos está aí, a nos ameaçar a todo instante, mas, diferentemente daqueles que não se inserem no rebanho dos privilegiados por Deus, temos a certeza de que o bem sempre vencerá o mal. Se nos dão insegurança física, temos a segurança da proteção divina, esta que nos garante a vitória final. Não desanime! Ao nos enviar como ovelhas no meio de lobos, o Mestre cristão quis apenas reafirmar o amor do Pai por aqueles que Ele próprio escolheu, pondo em prova nossa fé. Porque se constituímos um rebanho submisso à vontade de Deus, seja qual nossa função neste mundo, nada subsistirá à realidade do outro, onde um dia acamparemos no redil das bem-aventuranças que a fé nos promete.
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