No percurso normal da história da salvação, a vida, como dom todo divino, sempre esteve no alvo dos anúncios proféticos. A preocupação dos profetas bíblicos era de focar o sentido e o valor da dignidade das pessoas, realidade essa centrada no nível de liberdade e conduta dos indivíduos. Não existe vida verdadeiramente digna sem o exercício do dom da liberdade e da capacidade de escolha.
Jesus, profetizado e prefigurado no Antigo Testamento, é o caminho da vida por excelência, porque Ele é a ressurreição, a vida nova adquirida no alto do calvário. Ali a morte vence a morte para dar possibilidade de vida ressuscitada para todos os que passam pelo mesmo caminho de esvaziamento pessoal. A morte de Cristo já tinha sido profetizada como condição de vitória da vida, em Deus.
A vida humana deve ser interpelada nos momentos de crise, de muita incerteza a respeito de seu futuro. Sabemos perfeitamente que ela não está totalmente completa e acabada, e nem tem força, o suficiente, para se levantar dos momentos de baixa autoestima. Essa interpelação faz coro com a busca permanente de esperança positiva e está em sintonia em relação ao conteúdo da profecia.
Chamar atenção sobre o flagelo da fome em uma nação é atitude profética e revolucionária. Ela é ameaça constante para a vida dos pobres e abandonados, como também desqualifica o sentido de se viver. Pior ainda quando provoca a morte antecipada de tantos “Lázaros”, que vivem tentando comer as sobras e migalhas que caíam da mesa farta do rico do Evangelho (cf. Lc 16,20).
As barreiras que impedem as pessoas de viver bem, como discriminação por causa de cor, raça, condição econômica, paixão política, religiosa etc., precisam ser desmontadas, abrindo caminho e espaço seguros para que todo indivíduo tenha vida com dignidade e abundância. Isso não pode ser privilégio de uma minoria, pois a nossa origem e o nosso fim são os mesmos.
Muitas pessoas estão vivendo amarradas, presas no túmulo do medo, acomodadas, tristes e sem força para sair dessa condição, que mata. Como viver na liberdade e na escravidão ao mesmo tempo? Um texto é sugestivo para isto: “Foi para sermos livres que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). A Campanha da Fraternidade deste ano é profética, porque superar a fome é caminho de libertação.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.