O atraso da parusia (que se refere à segunda vinda de Jesus Cristo) provocou muitas especulações que deram origem a um discurso milenarista. A expectativa da segunda vinda de Cristo gerou, ainda, uma tradição de que alguns fenômenos atmosféricos anunciavam o fim do mundo e que Deus seria o responsável por causa de sua decepção ante a maldade do ser humano que Ele criou. São Lucas, no entanto, vai se utilizar destes elementos para anunciar um tempo aberto na história para o testemunho: “Será uma ocasião para dardes testemunho.”
A menção da destruição do Templo(cf. Lc 21,5-19), que pode ser considerada uma profecia, não é uma previsão do futuro, mas um modo de ajudar os discípulos e o leitor do evangelho a superarem as provações do tempo presente.
Em outros termos, o que Jesus quer dizer é o seguinte: não importa o que aconteça, não se deve esmorecer, nem temer, nem ser envolvido pela perplexidade.
É preciso apoiar a vida em valores verdadeiros e sólidos. Até o Templo, ornado com tantas pedras preciosas, desaparecerá, pois ele figura entre as coisas que passam.
A vida do ser humano deve estar apoiada no que não passa nem decepciona: Deus. As palavras de Jesus, inspiradas numa linguagem apocalíptica, não predeterminam nenhuma data, mas fazem um apelo ao discernimento permanente.
Ele evita responder à pergunta: “… quando será e qual o sinal de que isso está para acontecer?” Mas alerta: “Cuidado para não serdes enganados…”Ele não responde à questão posta, pois a preocupação do discípulo não deve ser com o quando, mas com que atitude devemos ter em meio às adversidades da vida e aos dramas da humanidade.
Do discípulo é exigida uma atitude de confiança que nada pode abalar, nem mesmo as catástrofes naturais, nem as perseguições por causa do evangelho. A propósito das perseguições e da morte, é preciso por a vida nas mãos de Deus: Em primeiro lugar, como já foi dito, será uma ocasião de dar testemunho e, em segundo lugar, de confiar que é Deus quem inspira, dá força e protege a causa dos eleitos.
Nos Atos dos Apóstolos, o próprio Lucas relata a atitude de Pedro e João, perseguidos pelas autoridades judaicas: “Quanto a eles, deixaram o Sinédrio muito alegres por terem sido julgados dignos de sofrer humilhações pelo Nome”.
É na vitória de Jesus Cristo que deve estar apoiada a esperança dos cristãos: “No mundo, tereis tribulações, mas coragem! Eu venci o mundo.” Com São Paulo, podemos, então, perguntar: “Quem nos separará do amor de Cristo?” E, com ele, responderemos: nada, nem ninguém.