Jerusalém, onde tudo haveria de acontecer. Foi para lá que Jesus, acompanhado de seus três discípulos, Pedro, João e Tiago, dirigia-se, quando subiu a montanha e, enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante.
Os discípulos despertaram do sono, e ao verem Jesus, Moises e Elias, revestidos de grande esplendor e glória, logo propuseram ali permanecer, enquanto, de uma nuvem, uma voz lhes dizia: “Este é o meu Filho, o escolhido. Escutai o que Ele diz” (Lc. 9,35). Porém, Jesus os convida a descer a montanha e voltar à realidade. Esse acontecimento é acompanhado, há seu tempo, pela entrada triunfal em Jerusalém, o domingo de ramos, e, posteriormente, a sequência da prisão, condenação e crucificação de Jesus.
Sua ressurreição após esses fatos; que significado tem para nós, que nos consideramos cristãos?
Porque Jesus não aceitou a proposta dos discípulos em lá permanecer, mas, sim, retornar para a sua realidade? Porque Jesus, inocente, pois não cometera falta alguma, submeteu-se a ser preso, escarnado publicamente, julgado, condenado e submetido à morte cruenta na cruz? Porque, após três dias, ele ressuscita e se faz presente no meio de nós?
A Páscoa desperta em nós esses questionamentos, pois a nossa natureza humana sempre nos leva a acolher o que é mais gostoso, mais fácil, que nos dá mais satisfação e acomodação. Foi esta a atitude dos apóstolos quando viram o Mestre entre Moises e Elias no esplendor da glória, e porque não lá permanecer ao invés de descer à realidade, onde tudo são provações e desafios.
Jesus sabia que sua missão não era lá no alto da montanha, mas, sim, aqui embaixo. Que a subida era íngreme, com tropeços, quedas, provações, renúncias, com reconciliações e perdoando não apenas sete vezes, com tentações, e quantas vezes até em pensamentos de desistência da missão.
Nessa Páscoa, Jesus quer chamar nossa atenção no sentido de que não é no esplendor e tampouco na glória que reside a nossa missão como cristãos, Ele nos deu o exemplo. Subiu até o topo da montanha, porém não lá permaneceu, sendo modelo de um amor sem limites e restrições, amando e perdoando até o fim – “Pai, perdoa porque eles não sabem o que fazem” (Lc.23,34). Mostrando-nos que após a morte do corpo, estaremos prontos a retornar à casa do Pai. O júbilo que sua ressurreição nos provoca é a certeza dessa vitória ao final da subida da montanha, a chegada à Jerusalém eterna.
Todos conhecem um dos textos mais importantes do evangelista Mateus – Mt 25,31-46 –, no qual ele coloca na boca de Jesus, justo juiz, o que realmente vai definir nossa eternidade ao chegarmos à nossa Jerusalém.
Numa palavra, o que fizemos com as pessoas que Deus colocou em nossa vida? Que lugar e espaço elas ocuparam? Como acolhemos a quem tinha fome e sede, estava doente, nu e na prisão, era migrante e refugiada, criança especial, explorada, idoso doente, desamparado ou abandonado? E nossa mãe natureza? Como a estamos usando e conservando? Estamos ouvindo e sentindo os seus gemidos e apelos de socorro pelos maus tratos a ela despendidos? Ou estamos surdos e ignorando os nossos atos?
E poderíamos multiplicar por muitos os que necessitam de nossa vida para terem mais vida, os que precisam de “alguém-gente” para ser “gente”.
Mensagem — O original desta mensagem é do autor Inglês Whit Criswel:
“Naquele dia, Deus não vai perguntar a você, a mim, a todos, que tipo de carro você costumava dirigir, mas vai perguntar quantas pessoas que necessitavam de ajuda você transportou.
Deus não vai perguntar qual o tamanho e o valor da sua casa, mas vai perguntar quantas pessoas você abrigou nela.
Deus não vai perguntar sobre as roupas do seu armário, mas vai perguntar quantas pessoas você ajudou a vestir.
Deus não vai perguntar o montante de seus bens materiais, mas vai perguntar que uso você fez deles em sua vida.
Deus não vai perguntar qual foi o seu maior salário, mas vai perguntar se você pisou em alguém para obtê-lo.
Deus não vai perguntar quantas promoções você recebeu, mas vai perguntar de que forma você promoveu os outros.
Deus não vai perguntar qual foi o título do cargo que você ocupava, mas vai perguntar se você colocou todo o seu empenho naquilo que você fez.
Deus não vai perguntar quantos amigos você teve, mas vai perguntar para quantas pessoas você foi amigo.
Deus não vai perguntar o que você fez para proteger seus direitos, mas vai perguntar o que você fez para garantir os direitos dos outros.
Deus não vai perguntar em que bairro você morou, mas vai perguntar como você tratou os vizinhos do seu bairro.
Deus não vai perguntar se você teve filhos ou netos, mas vai perguntar se você foi para eles uma presença carinhosa do seu amor.
Diante do que Deus não vai perguntar, que respostas teremos para dar?
Depende de nós, de cada um de nós, ouvir, naquele dia, da boca do Senhor Jesus: ‘vem, bendito… vem, bendita do meu Pai… vem gozar da felicidade eterna no meu céu que é, para sempre, teu céu também’.”
Essa é a certeza de nossa caminhada, e que a alegria contagiante da Ressurreição de Jesus, possa, nesta Páscoa, acalentar nossos corações e nos tornar firmes na subida da montanha de nossas vidas, amando como ele amou até o fim, sinceros, perseverantes e autênticos em nossa missão como filhos de Deus e irmãos em Cristo Jesus.
Feliz e Santa Páscoa a todos.
Roberto Nicolau Schorr é membro da Pascom diocesana e pertence à Paróquia Nossa Senhora de Fátima, de Marília.