Temos a graça de celebrarmos o Trigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum. Este domingo é o penúltimo deste ano litúrgico. Este domingo também celebramos o Dia Mundial de Oração pelos Pobres. A intitulação deste dia foi feita pelo Papa Francisco, pois, ele pede a todos que voltemos o nosso coração e o nosso olhar aqueles que mais necessitam.
Celebremos em unidade com toda a Igreja o 7º. Dia Mundial dos Pobres que tem como tema: “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar” (Tb 4, 7). Ensina o Papa Francisco que: “O Dia Mundial dos Pobres, sinal fecundo da misericórdia do Pai, vem pela sétima vez alentar o caminho das nossas comunidades.
Trata-se duma ocorrência que se está a radicar progressivamente na pastoral da Igreja, fazendo-a descobrir cada vez mais o conteúdo central do Evangelho.
Empenhamo-nos todos os dias no acolhimento dos pobres, mas não basta; a pobreza permeia as nossas cidades como um rio que engrossa sempre mais até extravasar; e parece submergir-nos, pois o grito dos irmãos e irmãs que pedem ajuda, apoio e solidariedade ergue-se cada vez mais forte.
Por isso, no domingo que antecede a festa de Jesus Cristo, Rei do Universo, reunimo-nos ao redor da sua Mesa para voltar a receber d’Ele o dom e o compromisso de viver a pobreza e servir os pobres.”
«Nunca afastes de algum pobre o teu olhar» (Tb 4, 7). Esta recomendação ajuda-nos a compreender a essência do nosso testemunho. Deter-se no Livro de Tobite, um texto pouco conhecido do Antigo Testamento, eloquente e cheio de sabedoria, permitir-nos-á penetrar melhor no conteúdo que o autor sagrado deseja transmitir.
Abre-se diante de nós uma cena de vida familiar: um pai, Tobite, despede-se do filho, Tobias, que está prestes a iniciar uma longa viagem. O velho Tobite teme não voltar a ver o filho e, por isso, deixa-lhe o seu «testamento espiritual».
Foi deportado para Nínive e agora está cego; é, por conseguinte, duplamente pobre, mas sempre viveu com a certeza que o próprio nome exprime: «O Senhor foi o meu bem».
Este homem que sempre confiou no Senhor, deseja, como um bom pai, deixar ao filho não tanto bens materiais, mas sobretudo o testemunho do caminho que há de seguir na vida. Por isso diz-lhe: «Lembra-te sempre, filho, do Senhor, nosso Deus, em todos os teus dias, evita o pecado e observa os seus mandamentos. Pratica a justiça em todos os dias da tua vida e não andes pelos caminhos da injustiça» (Tb 4, 5).
A primeira Leitura – Pr 31,10-13.19-20.30-31 – mostra que pela liturgia deste trigésimo terceiro domingo do tempo comum, a liturgia traz à tona, no fim do ano litúrgico, um trecho que exalta a virtude da “prudência”, da solicitude e previdência, demonstrada por uma mulher de muito valor. Isso, porque o fim do ano litúrgico, salienta a expectativa da vinda do Senhor, nos quer exortar a exercitar estas virtudes.
E, de fato, a prudência ou previdência é uma das virtudes mais louvadas na Sagrada Escritura. Este hino à mulher de valor figura, pois, como conclusão de um livro que fala diversas vezes de mulheres.
O livro é atribuído a Salomão, do qual se sabe que ele entendia de mulheres. No Capítulo 31, 10-31, a figura da mulher, não é mais como personificação poética da Sabedoria, mas como uma dona de casa judia que realiza concretamente os conselhos que a Dona Sabedoria dos primeiros capítulos dá.
É a Dona Sabedoria em forma plena. E feliz de quem a adquirir! Ela vale mais do que uma pedra de coral (linguagem utilizada pelos comerciantes judeus da época).
Na segunda leitura – 1 Ts 5, 1-6 – São Paulo vem exortar a todos os filhos da luz, que tenham uma atitude vigilante, ou seja, assim como o ladrão entra em nossas casas e não sabemos a hora. Assim também será a segunda vinda do Senhor. Para isso, o cristão deve-se preparar a cada dia e a cada momento. Não durmamos, como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios.
No Evangelho – Mt 25, 14-30 – Jesus conta a parábola dos talentos: um homem que, partindo de viagem para o estrangeiro, chamou os seus próprios servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, a outro um. A cada um, de acordo com a sua capacidade. Depois de muito tempo ele voltou e pôs-se a ajustar as contas com eles. Elogiou e recompensou os que fizeram render os talentos a eles confiados e repreendeu e castigou o que não fez render o único talento recebido.
O significado da parábola é claro. Nós somos os servos; os talentos são as condições com que Deus dotou cada um de nós (a inteligência, a capacidade de amar, de fazer os outros felizes, os bens temporais…); o tempo que dura a ausência do patrão é a vida; o regresso inesperado, a morte; a prestação de contas, o juízo; entrar no gozo de Senhor, o Céu. Não somos donos, mas administradores de uns bens dos quais teremos de prestar contas.
Na parábola, parábola o Senhor ensina-nos especialmente a necessidade de corresponder à graça de maneira esforçada, exigente e constante durante toda a vida. Importa fazer render todos os dons que recebemos do Senhor. O importante não é o número, mas a generosidade para fazê-los frutificar.
O último servo, revela-nos como é que o homem se comporta quando não vive uma fidelidade ativa em relação a Deus. Prevalecem o medo, a autoestima, a afirmação do egoísmo que procura justificar a sua conduta com as injustas pretensões do seu senhor que deseja colher onde não semeou. “Servo mal e preguiçoso”, é como o Senhor o chama ao ouvir as suas desculpas. Esqueceu uma verdade essencial: que o homem foi criado para conhecer, amar e servir a Deus neste mundo e assim merecer a vida com o próprio Deus para sempre no Céu.
Através desta parábola, o Evangelista São Mateus nos exorta a estarmos alertas e vigilantes. Não podemos esquecer os compromissos assumidos com o Cristo Senhor.
O cristão não pode deixar na gaveta os dons recebidos de Deus. No mundo, somos as testemunhas de Cristo. É com o nosso coração que Jesus continua a amar os pecadores do nosso tempo; é com as nossas palavras que Jesus continua a consolar os que estão tristes e desanimados; é com os nossos braços abertos que Jesus continua a acolher cada irmão que está sozinho e abandonado.
Estejamos atentos e sempre vigilantes, pois, o Senhor virá e ele não tardará. Que esta liturgia toque o nosso coração para assim vivermos como verdadeiros sentinelas. Sentinelas do Senhor, com o Senhor e no Senhor.
E, uma das maneiras mais eloquentes de vivermos a vigilância no Senhor Ressuscitado é a acolhida e o socorro dos mais pobres. Estes nos precederão no Reino dos Céus. Cuidemos dos pobres, os preferidos de Deus!
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ