Para os cristãos foram momentos de reflexão sobre a paixão, morte e ressurreição de Jesus, o carpinteiro de Nazaré. Deus se revelou em Cristo e nele mostrou a plenitude de nossa humanidade. Esta afirmação está no coração do Evangelho, da teologia centrada na pessoa e do Concílio Vaticano II.
Jesus não foi morto por ser um moralista liberal, um judeu ciumento, um rabino desajeitado ou um revolucionário com visão de futuro. Eles o crucificaram por ser o filho do Deus vivo. Durante o seu processo manteve-se em silêncio, exceto quando afirmava a sua identidade perante a pergunta expressa do Sumo Sacerdote. Ele é o Cristo, o Filho do Deus Bendito.
Ao meditar sobre o sustento da minha fé, lembro-me das palavras de alguns amigos que insistentemente me dizem que a Igreja deve ser mais prudente no que fala e se adaptar aos tempos para não perder adeptos.
O fato é que Cristo não se calou, nem negou sua identidade. Isso lhe rendeu o abandono de muitos seguidores (quase todos) e lhe custou a vida. Os discípulos nada mais são do que o mestre. Para mim é simples. Não podemos nos calar.
Também estou convencido de que devemos aprender a falar à imitação de Jesus, que sabia dizer as coisas com clareza e devagar, como dizia minha avó.
O objetivo não é evitar problemas, mas transmitir bem a mensagem do Mestre. Ser cristão e fingir não passar por dificuldades é ilusório. Reflito sobre três aspectos da aprendizagem.
1.- Nós cristãos anunciamos uma Pessoa, não defendemos uma verdade dos ataques do mundo. Uma verdade formulada de forma lógica e detalhada, por mais importante que seja, não amolece ninguém, não fala, não anda, não chora, muito menos precisa de uma mãe para acompanhá-la ao pé da cruz, nem de uma apóstolo a segui-lo, até que o negue, que clame por amor e, por fim, se torne a pedra de sua Igreja. Anunciamos Cristo porque temos a certeza de que ele é o caminho, a verdade e a vida.
2.- Moralismo e catolicismo se batem.Como não anunciamos um programa ético, mas uma pessoa, quando focamos nossa ação na defesa obstinada de uma verdade logicamente formulada, esquecemos de mostrar a beleza da fé e, portanto, de compartilhar com homens e mulheres de boa vontade os horizontes sem fim da nossa humanidade. A fé tem consequências morais inegáveis, mas não nasce de um código. Não é a moral que dá valor à pessoa, é a centralidade da pessoa que funda a moral.
3.- A beleza da fé é Cristo e nele tudo está ligado.Assim o expressa o Papa: “Somente se a vida humana for respeitada desde a concepção até a morte é que a ética da paz é possível e crível; só então a não-violência pode se expressar em todas as direções; só então respeitamos verdadeiramente a criação; e só assim pode ser alcançada a verdadeira justiça». Vida, justiça e paz estão ligadas. Quando os desassociamos, gera-se um moralismo inaceitável que nos leva a uma consciência fragmentada e a uma fé sem coerência. Assim, nenhum testemunho é credível e nenhuma esperança se apaixona.
Por: Jorge E. Traslosheros