O Tempo Comum ou “tempo durante o ano” ocupa a maior parte do ano litúrgico (34 domingos ou semanas aproximadamente). O fato de ser denominado “Tempo Comum” não significa que seja menos importante. Antes mesmo de se organizarem as festas anuais (Natal e Páscoa), com seus tempos de preparação e prolongamento, o Tempo Comum foi a primeira realidade na vivência do Mistério Pascal.
Na experiência das primeiras comunidades existia apenas a sucessão de domingos e semanas, ao longo do ano, tendo o domingo como dia maior, que congregava os irmãos e irmãs em torno da Palavra e da Ceia. Quando, mais tarde, foram organizados o ciclo da Páscoa e o do Natal, foi para celebrar com mais intensidade, num tempo determinado, o que já fazia parte do cotidiano das comunidades.
O Tempo Comum nos reconcilia com o normal e nos ajuda a descobrir o dia a dia como tempo de salvação, segundo a promessa do ressuscitado: Estarei com vocês todos os dias. O Senhor se revela a nós nos acontecimentos do dia a dia, em nossas vivências e cansaços, na convivência, no trabalho. No interior de cada dia, damos prova de nossa fidelidade. É o esforço de buscar, no cotidiano da vida, o mistério do Senhor acontecendo entre experiências de morte e ressurreição.
No Tempo Comum, celebramos, portanto, o mistério de Cristo em sua totalidade (encarnação, vida, morte, ressurreição e ascensão) e não um ou outro aspecto do mistério. É o que o distingue dos demais tempos. A tônica recai sobre o Evangelho de cada domingo. Aí temos a espiritualidade a ser vivida durante a semana. A vida cotidiana é lida à luz do mistério do Senhor. Nesse longo período do ano litúrgico, devemos prestar especial atenção ao lecionário, tanto dominical quanto semanal.
É a tarefa cotidiana de trazer a Páscoa para nossa vida. A partir da vida do Senhor, aprendemos d’Ele o que significa e implica ser discípulo. Em companhia dos discípulos que deixaram tudo para seguir o Mestre, junto com todo o povo de Deus, esse povo que coloca em Jesus suas esperanças, acompanhamos o Mestre na sua caminhada missionária. Em cada um dos acontecimentos que ocorrem no caminho, Deus vai revelando o mistério de Jesus e nós vamos sendo convidados a aderir mais profundamente e com mais amor, a sua pessoa e a sua causa.
Nos acontecimentos cotidianos da vida e da caminhada de Jesus, vamos percebendo o mistério maior que está presente também em nossa vida, tanto nos acontecimentos extraordinários como também naqueles que nos parecem banais e rotineiros. Em todos eles, é Deus que está presente, é Deus que nos chama, nos fala, nos toca, nos convida ao seguimento de Jesus, nos envia como testemunhas das realidades em que vivemos Cada domingo é assim. Uma visita de Deus para nos renovar, para libertar o seu povo, para nos unir mais a Ele e entre nós. Como sempre, Ele tudo pode, mas preferiu contar com a nossa participação.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ