Lendo o início deste salmo minha memória me transportou logo para templo de Jerusalém, na hora precisa em que, de acordo com a narrativa de Jesus, dois homens foram no templo para rezar. Um deles era fariseu e orava assim: “Eu vos dou graças, ó Deus, por não ser como os demais homens que são ladrões, injustos, adúlteros. Eu jejuo duas vezes por semana, pago o dízimo de tudo o que eu tenho” (Cfr. Lc 18, 9-12).
E este salmo começa assim: “Ó Deus, o maligno sussurra ao perverso, lá no fundo do seu coração, para que não vos tenha respeito nem temor. O pecado o envolve de tal modo que se julga muito importante, não reconhece as suas culpas e pensa que ninguém percebe nem reprova os seus erros” (vv.2 e 3).
Esse modo hipócrita de olhar para nós mesmos e para os outros é logo reprovado por Deus nos versículos seguintes: “Suas palavras são mentira e malícia; perdeu o bom senso e não quer fazer o bem. Ocupa-se dia e noite em arquitetar maldades, teima em prosseguir no caminho do mal e se compraz em fazer coisas erradas” (4-5).
Paremos um pouco e procuremos lembrar os encontros de Jesus com os fariseus narrados nos evangelhos. Quantas vezes eles tentaram matar Jesus? Uma das discussões mais calorosas entre Jesus e os fariseus encontramos no evangelho de São João (Cfr. Jo 8, 30-44). Entre outras coisas Jesus disse a esses que fingiam fazer a vontade de Deus: “Eu falo das coisas de meu Pai, mas vocês estão procurando uma maneira de matar-me; vocês falam do que aprenderam com o pai de vocês. Se vocês fossem filhos de Abraão, fariam o que ele fez. Vocês, porém, dizem e fazem obras do seu pai. Vocês são filhos do diabo” (38-44).
Busquemos então aproveitar os ensinamentos desse salmo e aplicá-lo em nossa vida. Será que lá no fundo do nosso coração pensamos de maneira semelhante à dos fariseus? Será que nos consideramos melhor do que os outros? Será que agimos sempre como filhos de Deus?
Para não cairmos nos erros dos fariseus, procuremos tirar a trave dos nossos olhos para podermos olhar os outros com o olhar de Deus. Busquemos amar de verdade as pessoas e colaborar para que todas se sintam amadas por Deus que as quer caminhando em paz e harmonia nos seus caminhos.
Aprendamos a orar com humildade e sinceridade: “Senhor, tende piedade de mim que sou pecador” (Lc 18,13).
Dom José Maria Maimone, SAC.
Bispo Emérito de Umuarama