A caridade, amor em obras, tem um poder imenso de transformação. Como é forte o coração que ama, que não mede esforços para ajudar.
A caridade brota do coração do próprio Deus, da consciência, sacrário da criatura humana, e jorra pelas mãos solidárias e comprometidas do discípulo de Cristo Jesus. Brota de Deus, por que Ele é o próprio amor! Criou-nos por amor, não precisava nos criar.
Não acrescentamos nada a Deus, Ele é Deus conosco e sem nós. Nossa existência, orações, atitudes… Não aumentam ou diminuem a Deus. Pelo contrário nós é que somos beneficiados quando oramos, ou agimos em Deus. Contudo, Ele quis nos criar e, “num excesso de amor”, nos criou à sua imagem e semelhança.
Quis precisar de nós, aguardou o Sim de Abraão, Moisés, dos Profetas, de Maria. Pede permissão para entrar na sua casa, no seu coração. “E para aquele que abrir a porta, Ele entrará … “( Ap3,20). Você pode ser um missionário da caridade, um Apóstolo… mas antes deverá ser Discípulo! Conhecer a verdade é condição para o exercício do amor sincero, pois a verdade ilumina os gestos. Jesus é a verdade, e Ele a revela em suas palavras ungidas, na simplicidade de seu comportamento, na coerência de sua vida, na compaixão e na alteridade.
Tudo o que fizermos não terá sentido sem o amor. Por isso tantas vidas são vazias e fúteis. São João da Cruz, grande místico já dizia: “Advirtam, pois aos que são muito ativos, que pensam abarcar o mundo com suas pregações e obras exteriores, que fariam muito bem e agradariam muito mais a Deus, sem falar no bom exemplo que dariam, se gastassem ao menos a metade deste tempo em estar com Deus em oração… Com isso fariam mais, e com menos trabalho, com uma só obra de que com mil, alcançando merecimento de sua oração e recobrando forças espirituais com ela; do contrário, tudo não passa de agitação, de fazer pouco mais que nada e, às vezes, nada e, outras vezes, dano”.
O ativismo não é sinônimo de realização. Sabemos da velocidade das informações, da era tecnológica que vivemos, contudo, devemos nos lembrar que ainda somos humanos e temos por missão convivermos e apoiarmos uns aos outros na trajetória, na grande travessia.
E que no final das contas, valerá a partilha que fizemos entre nós, da experiência do amor. Corremos o risco de no ativismo, aumentarmos a distância e a incoerência entre o que fazemos e falamos. Uma das expressões do ativismo é a falta de renovação na vida pessoal. Estudo, oração, descanso. O ativista dá a impressão de que é necessário, como estilo de vida, um grande volume de trabalho externo. E pode ser uma fuga dos problemas e de suas soluções.
Pode também ser atacado pela impaciência e o desânimo, que são gêmeos. Ambos são filhos do orgulho, da auto-suficiência, do esquecer que “tanto o que planta como o que rega, não são nada, e sim Deus que faz crescer”(1Cor3,7).
Que o poder da caridade vença a força da destruição e do vazio que vai se instalando no coração de tantos seres insensíveis, produzidos por uma geração que enaltece o provisório, o descartável e a felicidade comprada.
A única força capaz de gerar uma pessoa melhor, uma família com mais harmonia, um clima melhor no trabalho, uma religião que atinja seus objetivos e uma sociedade mais solidária, virá de dentro de cada um de nós, depois de bebermos na única fonte: o Sagrado Coração de Jesus.
Cônego Vonilton Augusto Ferreira