A liturgia do 32º Domingo do Tempo Comum fala-nos do verdadeiro culto, do culto que devemos prestar a Deus. A Deus não interessam grandes manifestações religiosas ou ritos externos mais ou menos suntuosos, mas uma atitude permanente de entrega nas suas mãos, de disponibilidade para os seus projetos, de acolhimento generoso dos seus desafios, de generosidade para doarmos a nossa vida em benefício dos nossos irmãos.
O Deus de Israel, diferente dos deuses dos pagãos, sente uma predileção especial pelas viúvas e pelos órfãos. É um Deus que é protetor e defensor, e deseja que todo membro do povo eleito se junto a ele em seus cuidados para com estes necessitados. O Apóstolo São Tiago faz das obras de caridade prestadas às viúvas e aos órfãos um dos dois critérios por meio dos quais um cristão pode averiguar se a sua “religião” – a sua devoção – é pura(cf. Tg 1,27).
Os pobres são os preferidos de Deus por terem uma vida simples e despojada, sem as superficialidades que complicam a existência humana, as duas viúvas são capazes(a da primeira leitura e do Evangelho) são capazes de sentir as coisas com imediatez. A viúva de Sarepta consegue sentir no seu próprio estômago a fome do profeta Elias(1Rs 17,11-12); a viúva de Jerusalém consegue realmente amar a beleza da casa de Deus, e não apenas apreciá-la esteticamente, precisamente porque é a habitação dele(Mc 12,42).
As viúvas são necessitadas e por isso mesmo simpatizam espontaneamente com outros necessitados. Para um rico é difícil adentrar-se na experiência de um pobre. Para um pobre, é a coisa mais simples do mundo. Os pobres são “totalizantes”(cf. Vultum Dei Quaerere, n. 3). Os pobres não dão parcialmente do pouco que têm; dão tudo, dão o total. A viúva do templo ofereceu as duas únicas moedas que tinha, foi generosa(Mc 12,42). O próprio Jesus ficou alegremente espantado com o gesto irrestrito daquela senhora.
A primeira leitura(cf. 1Rs 17,10-16) apresenta-nos o exemplo de uma mulher pobre de Sarepta, que, apesar da sua pobreza e necessidade, está disponível para acolher os apelos, os desafios e os dons de Deus. A história dessa viúva que reparte com o profeta os poucos alimentos que tem, garante-nos que a generosidade, a partilha e a solidariedade não empobrecem, mas são geradoras de vida e de vida em abundância.
O Evangelho(cf. Mc 12,38-44) diz, através do exemplo de outra mulher pobre, de outra viúva, qual é o verdadeiro culto que Deus quer dos seus filhos: que eles sejam capazes de Lhe oferecer tudo, numa completa doação, numa pobreza humilde e generosa (que é sempre fecunda), num despojamento de si que brota de um amor sem limites e sem condições. Só os pobres, isto é, aqueles que não têm o coração cheio de si próprios, são capazes de oferecer a Deus o culto verdadeiro que Ele espera.
A grande bem-aventurança proclamada por Jesus em sua primeira bem-aventurança é “Felizes vós, os pobres”(Lc 6,20). A sua pobreza os veste com especial beleza, muito apreciada por Jesus e por seu Pai.
A segunda leitura(cf. Hb 9,24-28) oferece-nos o exemplo de Cristo, o sumo-sacerdote que entregou a sua vida em favor dos homens. Ele mostrou-nos, com o seu sacrifício, qual é o dom perfeito que Deus quer e que espera de cada um dos seus filhos. Mais do que dinheiro ou outros bens materiais, Deus espera de nós o dom da nossa vida, ao serviço desse projeto de salvação que Ele tem para os homens e para o mundo.
Jesus discreto no templo: Vê os ricos, mas a sua atenção vira-se para a pobre viúva. Olhar curioso, inquiridor? Não! Como seu Pai, Jesus ultrapassa as aparências, vê o coração. A viúva deu toda a sua vida, tudo o que tinha. Não se questiona sobre como vai viver a seguir. Dá um salto no abandono total de si mesma ao Senhor. Ela é verdadeiramente filha de Abraão, o Pai da fé. Espera contra toda a esperança. Lança-se nos braços de Deus. Ao olhar esta pobre viúva, Jesus devia pensar certamente em si mesmo. Também nós somos reenviados a nós mesmos. Não se trata daquilo que damos no peditório, em cada domingo! Trata-se da nossa fé, da confiança que damos ao nosso Pai dos céus. Todos nós conhecemos momentos em que tudo escurece, em que não temos mais apoios, em que a nossa vida parece tremer. É então que se pode verificar a solidez da nossa fé, da nossa confiança. “Senhor, eu creio, mas vem em auxílio da minha pouca fé! Pai, entrego-me nas tuas mãos!”