A liturgia do 31° Domingo do Tempo Comum diz-nos que o amor está no centro da experiência cristã. O caminho da fé que, dia a dia, somos convidados a percorrer, resume-se no amor Deus e no amor aos irmãos – duas vertentes que não se excluem, antes se complementam mutuamente.
Somos convidados a expressar nosso amor incondicional a Deus, de quem nos aproximamos por meio de seu Filho. O Pai nos ama e quer que o amemos, amando nossos irmãos e irmãs. Neste dia da juventude, rezemos pelos jovens, chamados a ser testemunhas da esperança em meio a tanta dor e sofrimento, causados pelas consequências da pandemia da COVID-19.
A primeira leitura(Dt 6,2-6) apresenta-nos o início do “Shema’ Israel” – a solene proclamação de fé que todo o israelita devia fazer diariamente. É uma afirmação da unicidade de Deus e um convite a amar a Deus com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças. Ouvir e amar o Senhor: são dois imperativos muito fortes no Livro do Deuteronômio.
O povo que se prepara para entrar na terra prometida não pode fazê-lo sem estar disposto a cumprir os mandamentos. Associado a esses dois verbos estão outros como recordar e temer. Somente assim se lembrarão do Deus misericordioso que os livrou da escravidão do Egito e os conduziu para um erra boa. Essa memória deverá encher os corações do povo de alegria, a fim de que vivam na santidade diante do seu libertador. É por isso que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, como afirma Provérbios(9, 10).
O Evangelho (Mc 12,28-34) diz-nos, de forma clara e inquestionável, que toda a experiência de fé do discípulo de Jesus se resume no amor – amor a Deus e amor aos irmãos. Os dois mandamentos não podem separar-se: “amar a Deus” é cumprir a sua vontade e estabelecer com os irmãos relações de amor, de solidariedade, de partilha, de serviço, até ao dom total da vida.
Tudo o resto é explicação, desenvolvimento, aplicação à vida prática dessas duas coordenadas fundamentais da vida cristã. A Palavra do Senhor àquele que lhe pergunta sobre quem é o próximo é iluminadora para a nossa vida. Jesus ensina que não se pode amar a Deus sem amar o próximo e isso vale como medida para se entender a força dessa proximidade.
Quem ama não se permite insensibilidade e frieza. O mundo, por vezes, faz jogo sujo para nos anestesiar diante de realidade que nos pedem atitude. O amor não tolera inércia do outro humilhado na própria carne por ser pobre, migrante, encarcerado ou diferente.
A segunda leitura (Hb 7,23-28) apresenta-nos Jesus Cristo como o sumo-sacerdote que veio ao mundo para cumprir o projeto salvador do Pai e para oferecer a sua vida em doação de amor aos homens. Cristo, com a sua obediência ao Pai e com a sua entrega em favor dos homens, diz-nos qual a melhor forma de expressarmos o nosso amor a Deus.
Jesus é o único e perfeito sacerdote da Nova Aliança. Vivendo na presença de Deus, exerce a função de mediador entre nós e Deus, dispensando a necessidade de outros mediadores. A santidade plena de Cristo torna perfeita a oferenda que Ele fez de si mesmo ao Pai, de uma vez para sempre.
A prova de nosso amor a Deus está no próximo. Não há como provar que amamos a Deus se não amamos as pessoas. Não há outros mandamentos maiores do que amar a Deus e ao próximo como a si mesmo. Tratam-se de dois amores que dispensam holocaustos e sacrifícios. Que possamos aprender hoje, agradecendo a Deus pelo mês das missões, que possamos buscar no Senhor a força para que aprendamos a amar sempre mais e realizar nossa missão com coração sincero e sempre voltado para Deus.
+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG