Nas hospedarias humanas não havia lugar para nascer o Príncipe da Paz. Creio que, como há dois mil anos, ainda não há lugares nas hospedarias hodiernas para Jesus nascer. Jesus continua não tendo lugar para entrar nas nossas vidas e iluminar os nossos corações.
Neste mundo embriagado pelo luxo, pelo consumismo, pela bebida, marcado pela cultura da indiferença não há lugar para Jesus nascer. Isso porque na imposta cultura do egoísmo o aniversariante, Jesus nascido para nos salvar, é trocado por outros símbolos que levam a desvirtuação do significado mais profundo do Natal que é um Deus que se faz igual a nós em tudo, exceto no pecado, para nos abrir as portas do céu.
Viver a alegria do Natal e de sua oitava(oito dias permanentemente de glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade) significa abrir-se ao outro, formar comunhão com o Deus que nos foi dado como salvador, criando laços de comunhão na construção da cultura do encontro e na solidificação de gestos concretos de misericórdia, compaixão e de paz.
“O Natal é a festa da amante humildade de Deus, de Deus que inverte a ordem da lógica esperada, a ordem do devido, do dialético e do matemático. Nesta inversão, está toda a riqueza da lógica divina que transtorna a limitação da nossa lógica humana (cf. Is 55, 8-9). Disse Romano Guardini: «Que grande inversão de todos os valores familiares ao homem – não só humanos, mas também divinos! Verdadeiramente este Deus subverte tudo aquilo que o homem pretende edificar por si mesmo».[3] No Natal, somos chamados a dizer «sim, com a nossa fé, não ao Dominador do universo nem mesmo às mais nobres das ideias, mas precisamente a este Deus que é o humilde-amante.”
Ao entoarmos, solenemente, nesta vigília, nesta noite santa, no dia do Natal e em toda a oitava Glória a Deus no mais alto dos céus(Lc 2,14) se materializa a certeza de que Deus está no meio de nós, nascido em Belém, deitado na hospedaria(Lc 2,7). Chama-se Jesus. A sua missão: Cristo! Jesus nascido é o grande mensageiro do Conselho admirável(Is 9,5), mesmo quando nós teimamos em não escutar Nosso Senhor.
Jesus continua diante de nós e sempre nos precede. Devemos ir ao encontro de Jesus e procurar alcança-lo, porque Ele é a nossa paz(Lc 2,14). O Verbo de Deus monta a sua tenda entre nós, pecadores, e todos nós devemos nos apressar para receber a graça. Tantas vezes, nós O rejeitamos, preferimos permanecer no nosso pecado, mas Jesus não desiste, não deixa de oferecer a si mesmo e a graça que nos salva. Jesus nos espera sempre, essa é uma mensagem de esperança, de salvação e nós somos chamados a testemunhar com alegria este Evangelho da vida, acolhendo a todos e nunca discriminando ou perseguindo quem quer que seja. O Natal é a festa por excelência do encontro da humanidade com Deus e de Deus Menino com a humanidade.
O Papa Francisco, por quem eu tenho uma veneração sincera e uma adesão em gestos concretos de vida, exorta todos a viver o Natal cristão, à imitação do Natal de Belém, onde Deus quis inverter os valores do mundo, fazendo-se pequeno em uma estrebaria, pequeno com os pequenos e pobre com os pobres. Nesta noite santa, em que tantos não podem celebrar dignamente o Natal em família, porque estão nas prisões ou presos nos leitos dos hospitais, ou estão perdidos nos entorpecentes e em uma vida descompromissada a palavra fundamental é deixar-se envolver pelo silêncio da luz divina que na escuridão do pecado e da morte irrompe como generosa salvação e graça divina a iluminar nossos passos. “Permaneçamos em silêncio – é o convite do Papa – e deixemos que seja o Menino a falar”, pois é este Menino que nos ensina “o que realmente é essencial na vida”.
Contemplando a humildade da manjedoura, no silêncio de nossos corações Jesus eloquentemente é a luz a iluminar a nossa vida a dar testemunho da compaixão e da misericórdia que brota do despojamento austero da manjedoura de Belém e que deve aquecer nossos corações para sermos mais simples, mais humildes, mais tolerantes, mais generosos e mais fraternos. Feliz Natal! Não tenhamos medo de contemplar a mensagem e viver o testemunho da manjedoura!