Mentalidade vocacional

Material para catequese
Material para catequese

Na Festa da unidade deste ano, dia 1º de dezembro, no último sábado do ano litúrgico iniciamos o ano vocacional arquidiocesano. É um momento de clamar ao Senhor da Messe que enviei operários para a missão.

Ao falar de vocação, somos chamados a aprofundar o chamado à vida cristã. A vocação cristã fala antes de tudo de Deus, que chama porque ama. Esse Deus nos chama para manifestar o próprio amor e exprimir sua atenção e preocupação como se a pessoa chamada fosse única para ele.

A vocação é sinal de amor de Deus pelo homem, interessado simplesmente na auto realização humana; desvela ao homem aquilo que é chamado a ser, como manifestação de Deus. Os chamados de Deus são inúmeros, tantos quantos são os seres humanos e não podemos reduzir as vocações a uma única vocação. O homem é chamado por Deus que ama, nisso o homem vem à vida porque é amado e querido pela Vontade de Deus.  O homem é chamado à vida, a imagem do Filho de Deus, à sua vida e maneira de viver pela ação do Espírito Santo. Nesta conformidade está oculto um chamado a santidade feita a todos os homens, chamado este que encerra em si tudo o quanto Deus poderia desejar ao homem: o amor, o dom de si, a felicidade, a plena realização da própria pessoa. O chamado de Deus é um apelo único, singular e irrepetível ao indivíduo, feito à sua medida, esse chamado se revela como um sonho do Pai para seu filho amado, expressão desse amor paternal.

A vocação do homem, ou seja, esse chamado é um projeto pensado por Deus Criador e Redentor: Criador, onde a vocação representa a realização do plano das origens, no qual Deus criou cada uma das criaturas, deixando nela um traço da própria imagem e semelhança. Redentor, pois a vocação é o chamado que o Pai Redentor dirige a cada homem salvo pelo sangue de Cristo, afim de que o homem não somente acolha esta salvação mas aceite colaborar ativamente no desígnio da salvação, a imitação e pela graça do próprio Cristo. Essas duas dimensões são duas polaridades clássicas do conceito da vocação: criação por uma via mais estática e contemplativa, como expressão do ser humano em si, e Redenção pela via mais dinâmica e ativa, como expressão do ser humano em relação.

A vocação cristã jamais está simplesmente em função do indivíduo que foi chamado, ou de suas economias espirituais, ou de sua salvação e santidade privadas, ou ainda como sua autorrealização, mas é chamado a encarregar-se dos outros e sentir-se responsável por sua salvação. Existe ao mesmo tempo uma semelhança e uma diferença nas diversas vocações: todas a serviço da salvação, mas cada qual de um modo particular. O primado de Deus e a obediência ao chamado.

O chamado de Deus, é também aquilo que se impõe na vida do ser humano como a primeira palavra pronunciada sobre ela, na qual cada um deve obediência. Essa obediência, ainda totalmente implícita foi iniciada na vida de cada ser humano, nas quais devem aceitar tantas condições ligada à vida que lhe são dadas: pais que não escolheram, corpo com características precisas e recursos precisos, tipificação sexual bem determinada, temperamento, entre outros. Essas condições não foram determinadas por cada indivíduo e não representavam o ótimo, também o desenvolver-se na vida, impõe a cada um contrariedades, nem sempre se tem o melhor mestre, os melhores amigos, a melhor educação, essa realidade nos coloca diante da reflexão das situações imperfeitas e marcadas pelo limite humano e nos leva a refletir também que não existe, de fato, algum direito à vida perfeita em todos os âmbitos: familiar, profissional e até religioso.

Toda essa realidade faz parte da história do homem, do mistério escondido com Cristo em Deus, da vocação. Portanto, não existe vocação nem mais bela nem mais feia uma da outra, mas aquela pensada e projetada por Deus na história inconfundível de cada homem. Essa vocação é exemplificada no Cristo, que nasceu de Maria Santíssima para manifestar ao mundo seu amor de Pai, Criador e Redentor. Todo homem deve obediência a esse chamado, visto que assim o Pai o pensou e o capacitou, fora deste plano haverá somente a presunção desobediente e orgulhosa, e, por conseguinte, o “homem sem vocação”.

Na vocação e através dela, acontece um contato entre Deus e o homem.  Há um diálogo entre Deus e o homem, no qual o homem possui total liberdade de seu agir, e o homem é constituído dessa liberdade justamente porque é colocado diante do Deus que o chama. De fato, certamente, no chamado há um encontro entre duas liberdades: a perfeita, de Deus e a imperfeita, do homem, que pode crescer e ser sempre mais livre à medida que o chamado aceita a proposta daquele que chama. Na vocação Deus conhece o homem e o homem conhece a Deus, e nessa relação o homem sente-se amado de maneira absolutamente pessoal, de algum modo sente-se importante para Deus e diante dele. Estando diante de Deus o homem descobre a si mesmo, seus próprios recursos e possibilidades, medos e resistências, que, as vezes o coloca em fuga de Deus, em luta com ele.

Essa descoberta provoca o homem diante de suas experiências, sente-se chamado a todo tempo, cada situação é uma vocação, rezar por exemplo é um chamado a estar diante de Deus para deixar-se envolver por Ele. O chamado é algo totalizante, é o que define a vida inteira e lhe confere sentido. A vida é vocação! E como a formação é permanente, é ainda antes, a vocação como chamado constante. Não pode existir um só instante da vida do homem, no qual o Pai, Deus, não o chame.

Portanto, devemos em nossa mentalidade cristã ter ciência que Deus chama a todos, todos são chamados, e a Igreja é mãe de todos e de todas as vocações, e todos tem o direito de ser ajudados a descobrir sua vocação. A vocação diz respeito à pessoa a quem Deus chama a partir de um encontro pessoal, mas sua finalidade não é subjetiva, pois a partir da realização do ser, o homem volta-se para aquela que é missão de Cristo e da Igreja a qual todo vocacionado a seu modo é convidado a tomar parte. Além disso, toda vocação é para a vida inteira e, por isso, exige constante fidelidade. Porém, neste ano vocacional que iniciamos na Festa da Unidade, o nosso foco, é pedir as vocações para o sacerdócio ministerial em nossa Igreja para que não faltem operários na vinha do Senhor, seja na missão local, seja na missão para fora da arquidiocese, no Brasil e no mundo.

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ