Meus queridos irmãos,
No Judaísmo, existe toda uma tradição que considera a sabedoria como o maior bem que se possa alcançar na terra. Assim nos ensina a Primeira Leitura (Sb 7,7-11): “Preferi a sabedoria aos cetros e tronos e, em comparação com ela, julguei sem valor a riqueza;…”(cf. Sb 7,8). A Sabedoria supera tantas outras coisas consideradas valiosas: pedras preciosas, ouro, dinheiro, poder, vaidades, etc. Mesmo a saúde não vale tanto quanto a sabedoria. Ora, se uma coisa vale mais do que outra, e se impuser uma opção entre as duas, a gente tem que abandonar a que menos vale. É o que acontece com o Reino de Deus. Encontramos no Evangelho de hoje (Mc 10, 17-30) um homem que combinava a riqueza e vida decente. Tubo bem, sem problemas. Está à procura da “vida eterna”, a vida do “século dos séculos”, ou seja, do tempo de Deus, que ninguém mais poderá tirar. Poderíamos dizer: procura a verdadeira sabedoria, o rumo ideal de viver. Pedagogicamente, Jesus lhe lembra primeiro o caminho comum: observar os mandamentos. O homem responde que já está fazendo isso aí. Então, Jesus o conscientiza de que isso não é o suficiente. Coloco-o à prova. Se realmente quer o que está procurando, terá de sacrificar até sua riqueza – não vale a sabedoria do Antigo Testamento mais do que o ouro? O homem desiste, e vai embora. E Jesus fica triste, pois simpatizou com ele.
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Jesus, ao longo da estrada para Jerusalém foi transmitindo para os seus discípulos as condições para o seu seguimento. Para os judeus possuir muitos bens significava que ele se sentia muito abençoado por Deus, digno de sua amizade e merecedor do céu. Se já tinha tudo, por que procurar outras coisas ensinadas pelo Nazareno? Jesus inverte o quadro. É o pobre que tem a bênção divina. Não o pobre de bens materiais. Porque diante de Deus pobre e rico têm o mesmo valor e dignidade. Mas o pobre de coração, isto é, o desapegado de bens e de si mesmo. O desapego é um tema inevitável para quem quer compreender a pessoa de Jesus, seu modo de viver e a sua doutrina. Por conseguinte, a gratuidade do serviço que Jesus nos convoca, o desapego é um dos temas mais difíceis do Novo Testamento. O cristão não considera má as riquezas. Mas deve viver desprendido delas. Não é a conquista dos bens – nem materiais nem espirituais – a sua meta. Mas a aproximação sempre maior de Deus até a comunhão total com ele. Os bens são amarras que impedem o vôo, são jaulas, ainda que às vezes de ouro, que estreitam e encurtam os horizontes do destino humano.
Caros irmãos,
No Evangelho deste domingo – Mc 10,17-30, observamos a pergunta que é feita para Jesus, deve ser feita a cada um de nós hoje: “Bom mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?”(cf. Mc 10, 17) A vida eterna não se compra com obras. Nenhuma obra humana é suficientemente para se entrar na vida eterna, que é graça de Deus. Apenas Jesus, por ser Filho de Deus, foi capaz de merecer a vida eterna. É um dom Dele para nós, pago com seu Sangue. Por isso São Paulo chama o Cristo de “nossa justificação”(cf. Rm 10,4), isto é, nossa santificação.
Mas devemos lembrar que as obras crescem a nossa fé. Somos chamados a fazer o bem a todos, indistintamente, porque Deus é bom. Fazemos o bem, porque Cristo o fez. Mas não somos nós que julgamos o bem que fazemos. Deus dará a recompensa como ele quiser e na medida em ele quiser. Não fazemos boas obras para, em troca, ganhar o céu. Mas fazemos boas obras para, com elas, glorificar a Deus. Por isso em tudo Deus seja louvado! Cuidado, para que em nada seja feito comércio com Deus, porque tudo é graça do Senhor.
Não queremos ganhar a vida eterna como “barganha” ou uma “negociata”. Precisamos aprender como entrar no Reino de Deus. O Reino de Deus é a pessoa de Jesus presente entre nós, é o modo de vivermos a presença de Deus. Para Jesus, o Reino de Deus tem duas fases: uma atual, neste mundo; outra futura, que é a glória eterna. A segunda depende da primeira. A vida do ser humano sobre a terra foi muito valorizada por Jesus. Esta vida já é parte da eternidade. Já nesta vida vivemos a vida eterna. Esse Reino, que deve ser a primeira preocupação nossa(cf. Mt 6,25-34) e pelo qual devemos sacrificar tudo (cf. Mt 13,44s) só é compreendido pelos que têm espírito de pobre (cf. Lc 6,20) e desenvolve-se lentamente na vida presente, alcançando a sua plenitude na ressurreição, quando os corpos são transformados. Se para entrar no Reino é preciso espírito de pobre, a exigência de Jesus ao homem rico torna-se clara como a luz do dia. Poder-se-ia pensar que essa pobreza fosse indicada somente para os que fazem votos religiosos. Para eles claramente. Mas a exigência da pobreza é para todos os batizados.
Meus irmãos,
Observar a lei da pobreza é preceito evangélico amplo e pacífico. Mesmo sabendo que era difícil entrar a lição da pobreza na cabeça de seus discípulos Jesus os chama de meus filhos e garante-lhes o poder salvífico e Deus, em quem podem confiar, quando as coisas e os fatos parecem ou são impossíveis de acontecer. Observemos a diferença: o homem rico foi embora abatido (cf. Mc 10,22); os discípulos, que pensavam como o homem rico, ainda que não compreendessem por inteiro a lição de Jesus, permaneceram junto dele. E isso não porque fossem melhores e mais bravos que o homem rico, mas porque confiavam em Jesus. Como “a Deus tudo é possível (cf. Mc 10,27)”, possível foi transformar os discípulos em Pentecostes e fazer deles verdadeiros discípulos de Jesus, que souberam desprender-se de tudo, inclusive de sua própria vida.
A lição de Jesus, narrada no Evangelho de hoje (cf. Mc 10,17-30 ou 17-27) era de que não se vai à Cruz e à Páscoa abraçando às riquezas. O Cristo despedido na Cruz é símbolo do total desapego, posto por Jesus como condição de vida eterna.
Meus caros irmãos,
A história evangélica do homem rico, que buscava a vida eterna, mas não estava disposto a prescindir da sua riqueza, alerta-nos para a impossibilidade de conjugar a vida eterna com o amor aos bens deste mundo. A riqueza escraviza o coração do homem, absorve todas as suas energias, desenvolve o egoísmo e a cobiça, leva o homem à injustiça, à exploração, à desonestidade, ao abuso dos irmãos… É, portanto, incompatível com o “caminho do Reino”, que é um caminho que deve ser percorrido no amor, na solidariedade, no serviço, na partilha, na verdade, no dom da vida aos irmãos. Podemos levar vidas religiosamente corretas, frequentar a Igreja, dar o nosso contributo na comunidade, ocupar lugares significativos na estrutura paroquial; mas, se o nosso coração vive obcecado com os bens deste mundo e fechado ao amor, à partilha, à solidariedade, não podemos fazer parte da comunidade do Reino.
Jesus avisa aos discípulos que o “caminho do Reino” é um caminho contra a corrente, que gerará inevitavelmente o ódio do mundo e que se traduzirá em perseguições e incompreensões. É uma realidade que conhecemos bem. Quantas vezes as nossas opções cristãs são criticadas, incompreendidas, apresentadas como realidades incompreensíveis e ultrapassadas por aqueles que representam a ideologia dominante, que fazem a opinião pública, que definem o socialmente correto. Precisamos, todavia, de estar conscientes de que a perseguição e a incompreensão são realidades inevitáveis, que não podem desviar-nos das opções que fizemos. Para nós, seguidores de Jesus, o que é realmente importante é a certeza de que o “caminho do Reino” é um caminho de vida eterna.
Jesus conhecia bem os seus discípulos e sabia o que cada um tinha deixado para o seguir. “Casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos” são imagens do que é caro e essencial na vida. Para seguir Jesus com fidelidade, é necessário desapegar-se do que é mais importante. Quem o segue, porém, não fica sem o essencial. Por isso, Jesus elenca as coisas que devem ser deixadas e a seguir as repete, como as mesmas que serão dadas aos seus seguidores (Mc 10, 29-30). Assim, ensina que nada falta a quem deixa tudo por causa sua e do Evangelho. A verdadeira sabedoria consiste na assimilação dessa lógica.
Irmãos e Irmãs,
A segunda Leitura (cf. Hb 4,12-13) acentua a mensagem do Evangelho. Continua a Carta aos Hebreus. Jesus encarna a Palavra de Deus, ativa na história, decisiva como uma espada de dois gumes: diante dela, devemos optar: neutralidade não existe.
Por isso a liturgia hodierna conclama a uma autentica libertação do egoísmo, dominando nossa ânsia de acumular o transitório, o terreno, o efêmero. Agindo assim devermos nos colocar a serviço dos irmãos e irmãs necessitados, lembrando que nesse mês missionário, a Igreja nos convida a levar a Boa Nova formando discípulos-missionários de Jesus Cristo, na sabedoria e no discernimento da busca dos valores eternos, vivendo os mandamentos, partilhando os bens para assim bem seguir Jesus caminho, verdade e vida.
A segunda leitura nos ensina que a Palavra de Deus é viva, atuante, eficaz e renovadora – diz o nosso texto. Ela deveria ter um impacto positivo e transformador nas nossas vidas, nas nossas famílias, nas nossas comunidades, na sociedade à nossa volta… No entanto, a Palavra de Deus é proclamada diariamente nas nossas liturgias e continuamos a escolher valores errados, a erguer barreiras de separação entre pessoas, a marcar a nossa relação comunitária pela inveja, pelo ciúme, pela discórdia, a perpetuar mecanismos de injustiça, de violência, de exploração, de ódio. O que acontece é que escutamos, acolhemos e apreendemos outras “palavras” e passamos com indiferença ao lado da Palavra de Deus. É preciso voltarmos a “escutar” a Palavra de Deus – isto é, a ouvi-la com os nossos ouvidos, a acolhê-la no nosso coração, a deixarmos que ela nos transforme e se expresse em gestos concretos de vida nova. Sem o nosso “sim”, a Palavra de Deus não encontra lugar no nosso coração e na nossa vida. A Palavra de Deus ajuda-nos a discernir o bem e o mal e a fazer as opções corretas. Ela ecoa no nosso coração, confronta-nos com as nossas infidelidades, critica os nossos falsos valores, denuncia os nossos esquemas de egoísmo e de comodismo, mostra-nos o sem sentido das nossas opções erradas, grita-nos que é preciso corrigir a nossa rota, desperta a nossa consciência, indica-nos o caminho para Deus. Para que esta Palavra seja eficaz é preciso, contudo, que não nos fechemos nessa atitude de autossuficiência que nos torna surdos àquilo que põe em causa os nossos esquemas pessoais; mas é preciso que, com humildade e simplicidade, aceitemos questionar-nos, transformarmo-nos, convertermo-nos.
Devemos ter absoluta confiança em Deus e em sua providência santíssima! Somos missionários por graça de Deus e não por privilégio! A Igreja adverte a cada batizado sobre as escolhas que fazemos; recorda-nos que nem sempre o que reluz é ouro e que é preciso, por vezes, renunciar a certos valores perecíveis, a fim de adquirir os valores da vida verdadeira e eterna. Deus nos ajude neste bom propósito.
Padre Wagner Augusto Portugal
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