Já no final de sua mais recente Exortação Apostólica, divulgada no dia 4 de outubro, Papa Francisco explica o título Laudate Deum destacando que “um ser humano que pretenda tomar o lugar de Deus torna-se o pior perigo para si mesmo”. A Exortação Apostólica toda é um recado contundente que recai sobre os líderes mundiais que comandam a destruição da criação de Deus — o nosso planeta — em troca da riqueza e do poder. Em sua mensagem, o nosso Santo Padre diz que uma pequena quantidade de pessoas no mundo é responsável por mais da metade da poluição que afeta o meio ambiente e a nossa própria existência.
Meus irmãos, há milênios as Escrituras Sagradas já chamavam a atenção para o risco de colocarmos fim ao que Deus criou, à nossa tão perfeita morada. A semente do mal pode se espalhar facilmente em quem se deixa iludir pela ganância e pelo poder. “Quem é ganancioso traz desgraça à sua família, mas o que odeia presentes viverá.” (Pv 15,27) — uma advertência contra a busca desenfreada pelo poder e riqueza, que acaba resultando em desgraça para a família e para a própria pessoa.
Em Gênesis (2,15), outro alerta: “O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo.” Deus confia aos seres humanos a responsabilidade de cuidar e cultivar o jardim do Éden, ou seja, a Terra e a natureza em seu estado original. Isso demonstra a ideia de que nós seres humanos temos a responsabilidade de sermos administradores responsáveis da criação de Deus, cuidando dela e preservando-a. Essa passagem bíblica enfatiza que a terra é um presente divino, que deve ser protegida e cultivada com responsabilidade — algo que, como bem salienta Papa Francisco, não estamos cumprindo.
O que tem acontecido, no entanto, é que as grandes potências mundiais não apenas estão acelerando as mudanças climáticas como não se reconhecem como responsáveis ou, pior, relutam em mudar o rumo. O resultado, novamente, acaba afetando os mais pobres. Muito bem apontado por nosso Santo Padre, são os pobres que mais sentem os danos da mudança climática — ora perdem suas casas para desmoronamentos ou enchentes; ora por queimadas; ou ainda pelo calor ou frio; ou pela força do vento. Tudo afeta dura e violentamente o pobre, que é a imensa maioria de nós. Há uma insegurança com o cotidiano que tende a ser cada vez mais forte com o passar dos tempos.
Mas o que fazer, eu meu me pergunto. Deus, por qual caminho devemos seguir para mudar o curso dessa história? Em Laudate Deum, Papa Francisco também se questiona: “Na própria consciência e pensando nos filhos que pagarão os danos das minhas ações, coloca-se a questão do sentido: Qual é o sentido da minha vida? Qual é o sentido da minha passagem por esta terra? Qual é, em última análise, o sentido do meu trabalho e do meu compromisso?”.
Foi Deus quem criou tudo que o existe e, por meio de nossas ações, estamos destruindo o milagre feito por Ele para nós. E, mesmo assim, Deus não nos abandona. Ele já mostrou a saída — uma saída que, claro, exige esforço e sobretudo consciência humana.
É o que diz Papa Francisco: “Enquanto «a história dá sinais de regressão (…), cada geração deve fazer suas as lutas e as conquistas das gerações anteriores e levá-las a metas ainda mais altas. É o caminho. O bem, como aliás o amor, a justiça e a solidariedade não se alcançam duma vez para sempre; hão de ser conquistados cada dia». Para se obter um progresso sólido e duradouro, quero insistir que «há que favorecer os acordos multilaterais entre os Estados».
O Papa Francisco é, certamente, o líder de maior alcance no mundo. Dialoga com todas as culturas — do ocidente ao oriente. Promove a paz, a união entre os povos e a evangelização. Por isso, sua mensagem é tão importante. O alerta do nosso Santo Padre mostra uma Igreja coesa e atenta às demandas da atualidade, mas também mostra a força transformadora da nossa tradição cristã. Assim, devemos sempre levar para as nossas casas, para nossos vizinhos, coletas de trabalho, amigos, a mensagem do Papa Francisco. Devemos conversar sobre este tema. Somente assim, conseguiremos seguir com esperança e fé em um futuro melhor e sustentável — para nós e para as próximas gerações.
Que Deus olhe por todos nós! Cuidemos da Casa Comum!
Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)