Jesus em Nazaré é rejeitado onde nascera e residia com sua família (cf. Mc 6,1-6): “Esse homem não é o carpinteiro?” As pessoas ficaram escandalizadas por causa dele. Assim, cumpre-se a Escritura: “Veio para o que era seu e os seus não o receberam” (Jo 1,11). A falta de fé foi tão grande, a dureza de coração, tão intensa, que “ali não pôde fazer milagre algum!”.
A Palavra de Deus nos faz uma grande advertência. Jesus esteve no meio do seu povo, conviveu com ele, falou-lhe e, no entanto, não foi reconhecido pelos seus. Por quê? Pela dureza de coração, pelo fechamento em si mesmo. Nós somos capazes de acolher Jesus que nos vem? Escutamos com fé sua Palavra, quando ele se dirige a nós na Bíblia, aquecendo nosso coração? Acolhemo-lo na fé, quando ele se nos dirige pela boca da sua Igreja católica, ensinando-nos o caminho da vida. Por que Jesus não foi reconhecido como Messias? Porque o Senhor não era um messias do jeito que os nazarenos esperavam: um simples fazedor de milagres ou um resolvedor de problemas. Jesus, pobre, manso, humilde, era também exigente e pedia do povo a conversão de coração. Os nazarenos foram incapazes de ver além das aparências. Enxergaram em Jesus somente o filho de José, o carpinteiro. E, nós, conseguimos olhar para Jesus e vê-lo além das aparências? Somos capazes de escutá-lo na voz dos legítimos ministros de Cristo a própria voz do Senhor? Somos capazes de ouvir na voz da mãe Igreja a voz de Cristo?
O Evangelho de Cristo é proclamado não somente pela palavra do pregador, mas também pela carne de sua vida. Como anunciar o Crucificado que ressuscitou, sem participar da sua cruz na esperança firme da sua ressurreição? O Evangelho não é uma teoria. O Evangelho é Cristo Jesus presente na nossa vida, de modo que possamos dizer como São Paulo: “Eu trago no meu corpo as marcas de Jesus” (Gl 6,17). Triste do pregador que pensar em anunciar Jesus conservando-se para si mesmo. Toda a vida do pregador deve ser envolvida no anúncio: seu modo de viver, de agir, de vestir, de relacionar-se com os bens materiais, sua vida afetiva, seu modo de divertir-se, seu tipo de amizade. Tudo nele dever ser comprometido com o Senhor.
Hoje, Jesus continua a ser rejeitado, assim como aqueles que ele envia em missão. O mundo distante de Deus, secularizado, zomba de todos e já não crê no anúncio de Cristo que lhe é feito. Quem procura viver e testemunhar fielmente o Evangelho, quem participa da Igreja, muitas vezes, sofre incompreensões entre familiares, colegas de trabalho ou de estudo, dentre outros. Contudo, nessas ocasiões, faz a experiência da força do amor de Deus que nos acompanha e sustenta.
Quando experimentarmos a frieza e a dura rejeição, quando formos ignorados ou ridicularizados por sermos de Cristo, recordemos do Evangelho de hoje. Não tenhamos medo. São muitos os cristãos perseguidos no mundo de hoje, que continuam a ser rejeitados e mortos pela fé em Cristo. Pouco tem sido feito para assegurar o direito à liberdade religiosa onde perdura essa triste realidade.
Entre nós, reine a fidelidade ao Evangelho e o fraterno respeito a todos. Jamais seja alimentado qualquer tipo de forma de violência. Hoje, Jesus Cristo continua a ser rejeitado, assim como aqueles que ele envia em missão. Sejamos fiéis a Jesus de Nazaré.
Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena
Bispo de Guarabira (PB)