Depois de fazermos uma pausa no tempo Comum – no domingo passado para celebrar São Pedro e São Paulo, colunas da Igreja – a liturgia do 14º Domingo do Tempo Comum ensina-nos onde encontrar Deus. Garante-nos que Deus não Se revela na arrogância, no orgulho, na prepotência, mas sim na simplicidade, na humildade, na pobreza, na pequenez.
A primeira leitura (Zc 9,9-10) apresenta-nos um enviado de Deus que vem ao encontro dos homens na pobreza, na humildade, na simplicidade; e é dessa forma que elimina os instrumentos de guerra e de morte e instaura a paz definitiva. Esta leitura canta a alegria e o júbilo esperançoso da chegada iminente do Rei-Messias Salvador. Dele é afirmado: é justo e salvador, humilde e pacífico, anunciar e promotor da paz em toda a terra. A chegada do rei esperado, montado num jumento e não em cavalos imponentes. Sua realeza está na justiça e na solidariedade com o povo. É uma descrição de como deveriam ser os governantes e os autênticos servidores do povo, que não buscam o poder, mas o servir. A Igreja reconhece Jesus, nessa figura de rei descrita pelo profeta.
No Evangelho(Mt 11,25-30), Jesus louva o Pai porque a proposta de salvação que Deus faz aos homens (e que foi rejeitada pelos “sábios e inteligentes”) encontrou acolhimento no coração dos “pequeninos”. Os “grandes”, instalados no seu orgulho e auto-suficiência, não têm tempo nem disponibilidade para os desafios de Deus; mas os “pequenos”, na sua pobreza e simplicidade, estão sempre disponíveis para acolher a novidade libertadora de Deus. Jesus é o justo e salvador, humilde e pacífico, anunciador e promotor da paz em toda a terra. Jesus, no Evangelho, “agradece” ao Pai por ter escondido dos sábios e dos doutores(fariseus e mestres da Lei) e ter revelado “estas coisas! Apenas aos pequeninos (pobres e humildes). Que são essas coisas? São, sem dúvida, a fé na palavra e na ação reveladora de Jesus. Pela sua pregação e pelas suas obras, Jesus revelou o Reino de Deus e o próprio Pai (“Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”). Por isso, aos pequeninos, aos cansados e aos fatigados pelo peso de exploração, pelo peso da pobreza material e pelo peso do fardo da Lei, imposto pelas lideranças daquele tempo, Jesus convida a um descanso, oferecido apenas por Ele: “Vinde a mim (…) e vós encontrareis descanso!”. Descansar em Jesus é tomar sobre si seu jugo e seu fardo, que são leves e suaves. Se tomarmos sobre nós o jugo de Jesus, o mundo se transformará. Por um lado, então, a partir da Liturgia de hoje, Jesus nos convida a receber, pessoalmente, o alívio para nossas fadigas. E, por outro, nos estimula e nos convoca a uma atenção maior e ao cuidado com os mais cansados, oprimidos, empobrecidos, famintos, os pequeninos do Reino!
Reafirmo que Jesus louva o Pai por este ter concedido aos pequeninos a verdade sobre a sua pessoa e missão. Por isso convida todos os que estão cansados e oprimidos, sob o jugo de tantos problemas, a entrar em comunhão com ele e segui-Lo, pois é manso e humilde de coração, capaz de doar a vida pela vida dos pobres.
“Vinde a mim” como pede Jesus é o respeito, coração transbordando de amor, combatendo o ódio de muitos sujeitos que, intolerantes, destilam preconceitos, praticam crimes. Mentes vazias de pensamento, sem conceito. O “Vinde a mim” é fazer o que Jesus fez. Ele “naquele tempo”, e nós no agora, no hoje da história e da salvação. Sejamos ousados, como Jesus, em sermos “mansos e humildes de coração!”.
Na segunda leitura(Rm 8,9.11-13), São Paulo convida os batizados – comprometidos com Jesus desde o dia do Batismo – a viverem “segundo o Espírito” e não “segundo a carne”. A vida “segundo a carne” é a vida daqueles que se instalam no egoísmo, orgulho e auto-suficiência; a vida “segundo o Espírito” é a vida daqueles que aceitam acolher as propostas de Deus. A novidade da vida cristã está fundamentada na força do Espírito que, desde o batismo, habita a pessoa. Quem recebe o Espírito de Deus se torna nova criatura e não age de forma egoísta.
Jesus é sempre o Mistério de Deus revelado aos pequenos, simples se humildes. O Pai, ao derramar a sua graça em nossos corações, nos torna destinatários dos Mistérios que brotam do coração de Jesus, manso e humilde. Nunca cansemos, pela graça do Espírito Santo, em fazer o bem e belo todos os dias!
Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG