Jesus e as crianças

Jesus e as crianças
Material para catequese
Material para catequese

Quem não se lembra dos anos da infância? Em geral, esses foram anos vividos com alegria e inocência. Além disso, é bom mergulhar nos Evangelhos para ver como Jesus se comportava com as crianças. Mesmo vivendo numa época que colocava a perfeição na velhice e desprezava a infância, Jesus era um apaixonado pelas crianças e ousadamente ousava colocar os pequeninos como modelos. Por fim, quem não quis ter filhos carnais, teve infinitos rios de ternura interior; e compartilhou seu amor igualmente entre pecadores e crianças.

Jesus sente uma grande predileção pelas crianças, e dá-lhes o exemplo de inocência, simplicidade e pureza de alma. Além disso, Ele mesmo se identifica com eles ao dizer que quem recebe um destes pequeninos, o recebe. Para entrar no céu você tem que se tornar como uma criança.

As crianças eram naquela época “toleradas” pela simples esperança de que cresceriam. Contudo, eles não foram contados como pessoas. Além disso, sua presença não significava nada nas sinagogas ou em qualquer lugar. De fato, parecia que envelhecer era o auge do mérito. Por outro lado, conversar com uma criança era jogar fora e desperdiçar palavras. Finalmente, quando virmos os apóstolos separando as crianças de seu Mestre, entenderemos que eles não fizeram nada além do que qualquer outro judeu da época teria feito.

Mas Jesus, mais uma vez, romperia com o seu tempo. Onde prevalecia a astúcia, reinava a simplicidade; onde a força comandava, ele exaltava a fraqueza; em um mundo de velhos, ele pediria a seus entes queridos que voltassem a ser crianças.

Postura de Jesus diante das crianças

Jesus conhece as crianças

Ele sabe quais são suas brincadeiras e suas graças. E ele fala sobre eles com alegria. Em Mateus 11, 16 ele nos conta a parábola das crianças que tocam flauta para seus amigos e que brincam de choro imaginário. Em cada aluno das crianças ele veria seu próprio rosto e sua própria alma. Jesus conhece a ilusão das crianças de correr, fazer travessuras saudáveis, gritar.

Jesus valoriza as crianças

Diz que da boca das crianças sai o louvor que agrada a Deus (cf. Mt 21, 16). Ele os estabelece como modelos de pureza e inocência. Eles, os filhos, são os que sabem, os inteligentes, porque a eles Deus deu a sua palavra e a profundidade dos seus mistérios (cf. Mt 11, 25). Quantas crianças nos surpreendem com suas perguntas e respostas! Uma criança não vale por ser bonita ou feia, rica ou pobre, inteligente ou menos talentosa. Vale a pena pelo tesouro de graça e inocência que carrega na alma.

Jesus te ama

Apenas duas vezes nos Evangelhos encontramos a palavra “carícias” aplicada a Jesus. E ambos os momentos serão carícias dirigidas às crianças (cf. Mc 9, 35-36; Mt 18, 1-5). Abraçou-os, diz um dos evangelistas, descrevendo uma efusão que nunca vimos em Jesus nem nos referimos à sua mãe. Será uma carícia limpa, sem intenções duplas. Será um abraço cheio de ternura divina. Ao abraçar uma criança, Jesus abraçou o melhor da humanidade.

Jesus cuida deles

Ele repreende aqueles que os desprezam (cf. Mt 18,10); sobretudo indica os castigos mais severos para quem escandalizar uma criança (cf. Mt 18, 6). E oferece-nos até uma razão misteriosa para esta preocupação especial de Deus por eles:“Porque os seus anjos vêem continuamente no céu a face de meu Pai que está nos céus”(Mt 18, 10). É como se os anjos da guarda das crianças estivessem na primeira fila do céu, recriando e contando a Deus sobre as travessuras daquelas crianças, confiadas a elas.

Jesus os cura 

Jesus cura aquela menina de doze anos (cf. Mc 5,39), a quem docemente chama de Talita e o mantém perto de seu coração. Atrás dessa garota estão todas as garotas de ontem, hoje e sempre. Ele pede a seus pais para alimentá-lo. Sim, alimento abundante, não só para o corpo, mas também para a alma.

Ele cura a filha endemoninhada de uma pagã (cf. Mt 15, 21-28). Pagã porque ela não acreditava no verdadeiro Deus; ele acreditava em Baal, o deus enganador, o deus cruel, o deus fornicador, o deus vingativo. Baal é o símbolo do diabo, e baals é equivalente a dizer, demônios. Bem, um desses demônios possuiu o corpinho dessa garota pagã. A fé e a humildade da mãe arrancaram o milagre de Jesus.

Ele cura o filho único de uma viúva (cf. Lc 7, 11-15). Esta viúva não pede nada a Jesus, nem pelo filho adolescente nem por si mesma. Sua tristeza era tão grande que ela não sabia nada sobre o que o cercava. Jesus quem percebeu o tamanho da cruz que a mulher carregava. “Jovem, eu te digo: levante-se.” Levante-se e cresça, por dentro e por fora.

Ele cura o filho de um funcionário real (cf. Jo 4, 46-54). O pai acreditou na palavra de Jesus. E com a cura, toda a sua família também acreditou. O que as crianças têm que atrai o milagre de Jesus?

Como as crianças reagiram a Jesus? As crianças, por sua vez, também querem Jesus. Correram para Ele. E Jesus é tão amado pelas crianças. As crianças têm um sexto sentido e jamais correriam para alguém em quem não percebessem aquela misteriosa eletricidade que é o amor.

O chamado de Jesus à infância espiritual

Jesus não só ama as crianças, mas as apresenta como parte de si mesmo, como os outros: “Quem recebe uma criança como esta para mim, recebe a mim” (Mt 18, 5). Esta frase é aprofundada por outra: “Quem recebe um destes pequeninos em meu nome, a mim me recebe; e quem me recebe, não me recebe, mas aquele que me enviou” (Mc 9, 37).

Há em Jesus como uma eterna infância, porque vive em pureza permanente, pureza de alma, ausência de ambição e egoísmo. Essas são as coisas que estão manchando minha infância espiritual. Por isso, Jesus ousará pedir a todos o absurdo supremo de permanecer fiel à sua infância, de continuar a ser criança, de voltar a ser criança (cf. Mt 18, 2-5).

O que ele pediu a Nicodemos? Renascimento da água e do Espírito (Jo 3, 3). Que condição ele impôs aos apóstolos para entrar no céu? Seja como crianças.

A infância que Jesus propõe não é infantilismo, que é sinônimo de imaturidade, egoísmo, capricho. É, antes, a reconquista da inocência, a limpeza interior, o olhar limpo sobre as coisas e as pessoas, aquele sorriso sincero e cristalino, aquela partilha generosa das minhas coisas e do meu tempo. Infância significa simplicidade espiritual, não me complicar, não ser distorcido, não procurar segundas intenções. 

O que é Infância espiritual?

A Infância espiritual significa confiança ilimitada em Deus, meu Pai, fé serena e amor sem limites. É não deixar o coração envelhecer, é mantê-lo jovem, terno, doce e bondoso. Infância espiritual não é pedir contas ou garantias a Deus.

Ora, não significa ignorância das coisas, mas conhecer essas coisas, olhar para elas, pensar nelas, julgá-las como Deus faria. A deturpação das coisas, a manipulação das coisas, os preconceitos e as reservas, já trazem consigo a malícia de quem se julga inteligente e explorado. E essa malícia mata a infância espiritual.

A infância espiritual não significa viver sem cruz, de costas para a cruz; pelo contrário, não significa escolher o lado doce da vida, nem significa esconder-se e vendar-se para não ver o mal que abunda em nosso mundo. Na verdade, a infância espiritual, como bem entendia Santa Teresinha do Menino Jesus, significa ver os males muito mais profundamente e tentar resolvê-los com a oração e o sacrifício. Além disso, diante da cruz, coloque um rosto sereno, confiante e até sorridente. Surpreendentemente, quase nenhuma de suas irmãs no Carmelo percebeu o quanto Santa Teresita sofreu. Ela, por sua vez, viveu abandonada nas mãos de seu Deus Pai. E isso, para ela, foi o suficiente.

Existem quatro características da infância espiritual: mente aberta, simplicidade, primazia do amor e um sentimento filial pela vida. Abertura, não fechamento. Simplicidade, não orgulho. Primazia do amor, não da cabeça. Sentimento filial, não medo ou desconfiança.

Não é provavelmente o purgatório a grande tarefa dos anjos para remover emplastros, camadas, lençóis que fomos acumulando ao longo de nossas vidas? Do nosso batismo?

CONCLUSÃO

Grande tarefa: fazer-nos como crianças. Exige muita humildade, muita simplicidade. Deus nos diz que devemos passar pela porta estreita se quisermos entrar no céu. No Reino de Deus só haverá filhos, filhos de corpo e alma, mas filhos, apenas filhos. Deus, quando se fez homem, começou por se tornar o melhor dos homens: uma criança como todas as outras. Ele poderia, naturalmente, ter encarnado como adulto, não ter “perdido tempo” sendo apenas uma criança… Mas ele queria começar como um bebê. 

A melhor coisa desse mundo, Deus sabia!, são os filhos. Eles são nosso tesouro, a pérola que ainda pode nos salvar, o sal que torna suportável o universo. É por isso que Martín Descalzo diz que se Deus tivesse feito a humanidade apenas adulta, ela estaria podre por séculos. É por isso que ele o renova com ondas de crianças, gerações de bebês que ainda parecem frescos e acabados de fazer. As crianças ainda cheiram às mãos de Deus o criador. Por isso cheiram a pureza, limpeza, esperança, alegria. Não algememos aquela criança que carregamos dentro de nós com a nossa importância, não a envenenemos com as nossas ambições! Pela pequena porta da infância chega-se ao próprio coração do grande Deus.

“Jesus, a quem ninguém chamava de pai, sentia-se especialmente atraído por crianças e pecadores. A inocência e a queda foram, para ele, penhores de salvação: a inocência, porque não requer nenhuma purificação; abjeção, porque sente mais intensamente a necessidade de se purificar. As pessoas do meio correm mais perigo: estão meio corrompidas e meio intactas; homens que estão infectados por dentro e querem parecer sinceros e justos; aqueles que perderam a limpeza nativa na infância e não são capazes de sentir o fedor da putrefação interna”.