Temos a graça de celebrar neste domingo a Solenidade da Ascensão do Senhor. A liturgia já vem preparando nossos corações e nossas mentes através das leituras que nestes dias passados tem sido proposta para a nossa reflexão. Com esta solenidade, a Igreja convida-nos a ter os olhos postos no Céu, a Pátria definitiva a que o Senhor nos chama. No Credo, encontramos a afirmação de que Jesus “subiu aos céus e está sentado à direita do Pai”. A vida terrena de Jesus culmina no evento da Ascensão, quando Ele passa deste mundo ao Pai, e é elevado à sua direita. É o último mistério da vida do Senhor aqui na terra. É um mistério redentor, que constitui, com a Paixão, a Morte e a Ressurreição, o mistério pascal. Convinha que os que tinham visto Cristo morrer na Cruz, entre os insultos, desprezos e escárnios, fossem testemunhas da sua exaltação suprema.
A primeira leitura, (At 1,1-11), descreve de maneira detalhada o que estamos hoje celebrando, o dia em que Jesus se reúne com os seus e à vista deles volta para a Glória do Pai, com a descrição da nuvem que o encobre e a aparição dos anjos que questionam os que ali permanecem contemplando o fenômeno: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”. (At. 1, 11). A contemplação de Cristo que vai aos céus é mais uma vez mostrada como sinal de tudo aquilo que Ele havia prometido e ensinado: Jesus Cristo é Senhor para Glória de Deus Pai. Mas ao mesmo tempo, essa realidade deve se transformar em vida na vida daqueles que foram testemunhas do Senhor em todos os momentos, continuando agora a missão de Cristo no mundo, edificando seu reino e anunciando a Conversão.
O salmo de resposta (Sl 46), é um salmo de aclamação de entrada no Senhor em seu Templo Definitivo: a glória celeste. Este salmo é conhecido como um dos salmos que proclama e reconhece a realeza do Senhor. Nele vemos um convite a uma aclamação universal ao Senhor que manifesta sua glória em meio a seu povo. A Liturgia deste domingo nos convida e ler este salmo a partir de Cristo, centro de todas as Escrituras e vê nele uma figura da solenidade que estamos celebrando.
Na Carta aos Efésios, que é proclamada na segunda leitura de hoje (Ef 1,17-23), lemos um dos hinos cristológicos mais ricos de significado no contexto do novo testamento: Cristo apresentado como plenitude de todas as coisas e como cabeça da Igreja, que é apresentada como seu corpo. Tal imagem nos ajuda, no contexto desta celebração, a renovar nossa busca pelas coisas do alto e nunca esquecer nossa vinculação com Cristo. A Igreja, embora caminhe no tempo e carregue as marcas do tempo, tem como Princípio e Fim de sua ação Cristo. Ser Igreja é ser cada vez mais Cristo que passa em meio aos homens.
O Evangelho (Mt 28,16-20) é rico nos detalhes que apresenta: “Naquele tempo, os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram. Então Jesus aproximou-se e falou: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”.
Três aspectos ficam iluminados logo ao entrarmos em contato com esse texto: os discípulos que obedecem ao pedido do Senhor, os discípulos que contemplam e adoram Cristo e os discípulos que são enviados em missão. Contemplação, obediência e missão! É como que um itinerário de vida de fé que nos é apresentado na celebração e contemplação do mistério da Ascensão do Senhor.
Comentando sobre a Ascensão do Senhor, ensina São Leão Magno: “Hoje não só fomos constituídos possuidores do paraíso, mas com Cristo ascendemos, mística mas realmente, ao mais alto dos céus, e conseguimos por Cristo uma graça mais inefável que a que havíamos perdido”.
A Ascensão fortalece e estimula a nossa esperança e nos convida constantemente a levantar o coração a fim de procurarmos as coisas que são do alto. Agora a nossa esperança é muito grande, pois o próprio Cristo foi preparar-nos uma morada. A esperança do céu encherá de sentido o nosso caminhar diário, mesmo passando por tantas lutas e contradições. A festa de hoje nos recorda que não temos aqui morada permanente. Imitaremos os apóstolos que, segundo São Leão Magno, “tiraram tanto proveito da Ascensão do Senhor que tudo quanto antes lhes causava medo, depois se converteu em alegria. A partir daquele momento, elevaram toda a contemplação das suas almas à divindade que está à direita do Pai; a perda da visão do corpo do Senhor não foi obstáculo para que a inteligência, iluminada pela fé acreditasse que Cristo, mesmo descendo até nós, não se tinha afastado do Pai e, com a sua Ascensão, não se separou dos seus discípulos”.
Neste mês de maio e na semana de preparação para a Solenidade de Pentecostes, que Maria Santíssima, que neste domingo é comemorada em alguns locais como Nossa Senhora Auxílio dos cristãos, nos ajude a estar com o coração e com o olhar votados para o alto. Que como Igreja, Corpo de Cristo, sejamos sinais de esperança para os homens em suas dores, seja em nosso modo de agir, seja em nossas palavras. Que a mensagem final do evangelho: ide e fazei discípulos nos impulsione ainda mais em nossa missão evangelizadora, especialmente no dia em que comemoramos o 54º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Está em nossa responsabilidade essa missão!
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ