Com a fé muda verdadeiramente tudo em nós
A Igreja guarda o tesouro da fé precisamente para que a humanidade renove o entusiasmo de crer em Jesus Cristo, único Salvador do mundo, reavive a alegria de percorrer o caminho que nos indicou e testemunhe de modo concreto a força transformadora da fé. O homem leva consigo um desejo misterioso de Deus.
De uma forma significativa, o Catecismo da Igreja Católica nos ensina em uma belíssima consideração: “Desejar a Deus é um sentimento inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus. Deus não cessa de atrair o homem a Si e só em Deus é que o homem encontra a verdade e a felicidade que não se cansa de procurar (n. 27).
Meditar a fé é uma ocasião importante para voltar para Deus, a fim de aprofundar e viver com maior coragem através do anúncio da Palavra, da celebração dos Sacramentos e das obras de caridade, que nos orienta para encontrar e conhecer Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Trata-se do encontro e do conhecimento não com uma ideia, nem com um projeto de vida, mas com uma Pessoa viva que nos transforma, revelando-nos a nossa verdadeira identidade de filhos de Deus. O encontro com Cristo renova os nossos relacionamentos humanos, orientando-os no dia-a-dia para uma maior solidariedade e fraternidade, na lógica do amor. Ter fé no Senhor é algo que impulsiona a uma mudança que compromete a vida, a totalidade do nosso ser: sentimento, coração, inteligência, vontade, corporeidade, emoções e relacionamentos humanos. Com a fé muda verdadeiramente tudo em nós e para nós, e revela-se com clareza o nosso destino futuro, a verdade da nossa vocação no interior da história, o sentido da vida. É um dever da Igreja transmitir a fé, comunicar o Evangelho, a fim de que as verdades cristãs sejam luz das novas transformações culturais, e os cristãos se tornem capazes de explicar a razão da sua esperança (cf. 1 Pd 3, 14).
Depositar a fé num Deus que é amor e que se fez próximo do homem, encarnando e doando-se a si mesmo na cruz para nos salvar e reabrir as portas do Céu, indica, como falou o Papa Bento XVI, “que a plenitude do homem consiste unicamente no amor”. Hoje é necessário reiterá-lo com clareza, enquanto as transformações culturais em curso mostram com frequência tantas formas de barbárie.
A fé afirma que não há humanidade autêntica, a não ser nos lugares, nos gestos, nos tempos e nas formas como o homem é animado pelo amor que vem de Deus, se expressa como dom, se manifesta em relações ricas de amor, de compaixão, de atenção e de serviço abnegado ao próximo.
Onde existe domínio, posse, exploração, e exterminação do outro por egoísmo próprio, onde há arrogância do eu, fechado em si mesmo, o homem torna-se pobre, degradado, desfigurado. Vale ressaltar as palavras do Papa Bento XVI: A fé cristã, penetrada na caridade e forte na esperança, não limita mas humaniza a vida, aliás, torna-a plenamente humana.
A fé é o acolhimento desta mensagem transformadora na nossa vida, o acolhimento da revelação de Deus. Eis a maravilha da fé: Deus, no seu amor, cria em nós — através da obra do Espírito Santo — as condições adequadas para que possamos reconhecer a sua Palavra. O próprio Deus, na sua vontade de se manifestar, de entrar em contato conosco, de se fazer presente na nossa história, torna-nos capazes de o ouvir e acolher. A Igreja, nascida do lado de Cristo, tornou-se portadora de uma esperança nova e sólida, o anúncio central e impetuoso da fé.
Mas desde o início levantou o problema da fidelidade dos crentes à verdade do Evangelho, na qual permanecer firmes, à verdade salvífica sobre Deus e sobre o homem, que se deve conservar e transmitir, e que é um grande desafio. São Paulo escreve: “Recebereis a salvação, se o mantiverdes como vo-lo anunciei. Caso contrário, em vão teríeis abraçado a fé” (1 Cor 15, 2).
A fé é dom de Deus, mas é também ato profundamente livre e humano. O Catecismo da Igreja Católica afirma-o claramente: “O ato de fé só é possível pela graça e pelos auxílios interiores do Espírito Santo. Mas não é menos verdade que crer é um ato autenticamente humano. Não é contrário nem à liberdade nem à inteligência do homem (n. 154).
Aliás, envolve-as e exalta-as, numa aposta de vida que é como que um êxodo, ou seja, um sair de nós mesmos, das nossas seguranças, dos nossos esquemas mentais, para nos confiarmos à ação de Deus que nos indica o seu caminho para alcançar a liberdade verdadeira, a nossa identidade humana, a alegria do coração, a paz com todos. Crer é confiar-se com toda a liberdade e com alegria ao desígnio providencial de Deus sobre a história, como fez Maria.
Então, a fé é um assentimento com que a nossa mente e o nosso coração dizem o seu “sim” a Deus, professando que Jesus é o Senhor. E este “sim” transforma a vida, abre-lhe o caminho rumo a uma plenitude de significado, tornando-a assim nova, rica de júbilo e de esperança confiável.
Sem. Aderval Rodrigues Ferreira
Seminário São João Maria Vianey
Diocese de Palmeira dos Índios