No início da experiência cristã está sempre um encontro de fé com a pessoa de Jesus Cristo. É o que se pode verificar lendo, por exemplo, o texto do evangelista João: no dia seguinte, João se achava lá, de novo, com dois de seus discípulos. Ao ver Jesus que passava, disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus’. Os seus dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus. Jesus, voltando-se e vendo que o seguiam, disse-lhes: ‘Que estais procurando?’ Disseram-lhe: ‘Rabi (nome que traduzido, significa Mestre), onde moras?’ Disse-lhes: ‘Vinde e vede. ’ Eles foram e viram onde morava e permaneceram com ele, aquele dia. Era a hora décima, aproximadamente (Jo 1, 35-9).
Esta cena bíblica recorda que não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou grande ideia, mas através do encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva (Bento XVI).
Em Jesus, o ‘tempo se completou’(Mc 1,15). No centro de tudo, está agora a pessoa de Jesus Cristo. Por isso, o discípulo é convocado a seguir o Senhor. Ele é a Palavra de Deus que se fez carne. Em Jesus é Deus quem fala!
O Novo Testamento apresenta Jesus de Nazaré como fruto do Antigo Testamento. Sua mãe seguia a tradição da Antiga Aliança; José era filho do povo que atravessou o Mar Vermelho.
Os cristãos são seguidores de Jesus Cristo. Neste sentido, pode-se dizer que o cristianismo é a religião da carne, ou seja, é a religião daqueles que seguem o “homem que passou fazendo o bem e curando a todos aqueles que haviam caído no poder do diabo, porque Deus estava com ele” (At 10,38). A fé cristã é a religião do ‘Verbo encarnado e vivo’.
Jesus de Nazaré “fazia bem todas as coisas” (Mc 7,37). Seu modo de agir foi causa de calúnia, injúria e morte. A forma como foi morto, isto é, na cruz, o lançou na condição de um maldito. Acima de sua cabeça, no alto da cruz, foi escrito de forma clara, em hebraico, latim e grego (Jo 19,19-20), a causa de sua condenação à morte: ‘Jesus de Nazaré, o rei dos judeus’ (Jo 19,19). Tal inscrição sintetiza a confusão entre poder religioso, político e cultural.
O agir do Senhor confunde o senso comum. A cruz expressa o que significa amar o ser humano de todos os tempos, sem reservas nem limites, até o fim.
O discípulo que se dispõe a amar da mesma forma, com tamanha determinação torna-se como seu Mestre. ‘A admiração pela pessoa de Jesus, seu chamado e seu olhar de amor despertam uma resposta consciente e livre desde o mais íntimo do coração do discípulo, uma adesão a toda a sua pessoa ao saber que Cristo o chama pelo nome, é um sim que compromete radicalmente a liberdade do discípulo a se entregar a Jesus, Caminho, Verdade e Vida’.
Consequência dessa disposição do discípulo é o fato de o cristianismo cultivar o respeito absoluto pelo ser humano, mesmo quando este não age de acordo com as orientações do Evangelho.
Assim, todo ser humano é sempre e de novo convidado a entrar no âmbito da liberdade dos filhos e filhas de Deus.
Se, no Antigo Testamento, cultivava-se a reverência a Deus por parte do ser humano, agora, a partir da Nova Aliança, inaugurada na cruz, é Deus que vem ao encontro da carne humana.
A certeza que advém da experiência do encontro com a pessoa de Jesus Cristo leva o discípulo a uma transformação radical. Tocado pelo Verbo da Vida ele se faz defensor, cuidador e promotor da vida e vida plena para todos.