A Quaresma é o tempo em que nos renovamos. O tempo em que olhamos para nós próprios, buscamos o que há de pior em nós e tentamos melhorá-lo. É o tempo em que, privilegiadamente, tentamos aproximar-nos mais da perfeição e do legado que Jesus nos deixou.
Este é o tempo em que cada um de nós faz uma caminhada: em direção a Cristo, em direção à Páscoa, em direção à Salvação, em direção à Perfeição.
A caminhada quaresmal deste ano pretende, tal como a do Advento, ser simples.
Aquilo que te propomos, e ao teu grupo, é o “crescimento” de uma árvore: ao longo do tempo, a árvore deixa de ser semente, para passar a ser raiz, depois tronco, e assim sucessivamente até dar frutos.
Porquê uma árvore? Em primeiro lugar, também nós, na nossa caminhada, somos como árvores: há uma Palavra (a semente), que Alguém planta em nós. Há medida que vamos crescendo em Fé, vamos ganhando raízes, troncos, ramos. E, eventualmente, a nossa Fé frutifica – em obras, testemunho, evangelização…
Qual o sentido da árvore? Quando está toda desenvolvida, a árvore dá fruto. O fruto simboliza o fim do crescimento. E que sentido terá a Quaresma se não nos ajudar a preparar e a crescer para podermos frutificar?
Para ajudar a compreender o sentido de cada passo na árvore, propomos-te um texto de apoio. Em cada semana, cada elemento do grupo constrói mais um pouco da sua árvore e partilha com o grupo as escolhas que fez para cada etapa da árvore.
De acordo com aquela que for a caminhada do teu grupo (em termos de maturidade dos seus elemento, das relações inter-pessoais, etc), podem decidir fazer árvores individuais ou uma única árvore de grupo.
Que sejas uma árvore com muitos frutos! ☺
Boa caminhada!
Semana I – O fruto
Leituras: Gn 9, 8-15
1 Pd 3, 18-22
Mc 1, 12-15
Quando compramos as sementes de uma planta, fazemo-lo de acordo com a planta, a flor, os frutos que queremos ter. Por isso, antes de pensares na tua semente, pensa: que fruto quero eu dar? Lembra-te que dar fruto, aqui, significa ser e dar aos outros o fruto que escolheres.
Num material à tua escolha, recorta a forma de um fruto que queiras e escreve lá dentro o fruto que queres ser.
Texto 1 – “BANCA DE DEUS”
Uma mulher entrou num mercado e viu, para surpresa sua, que Deus também tinha uma banca.
- Que vendes aqui? – perguntou.
- Tudo o que o coração quiser. – respondeu Deus.
Quase não acreditando no que estava a ouvir, a mulher foi pedindo:
- Desejo paz de espírito, amor, felicidade, sabedoria… não só para mim, mas para toda a gente
Deus sorriu e disse:
- Penso que não me compreendeste bem: aqui não se vendem frutos, mas só sementes.
Semana II – A semente
Leituras: Gn 22, 1-2.9a. 10-13.15-18
Rm 8, 31b-34
Mc 9, 2-10
Depois de teres escolhido o fruto que queres ser, pensa na semente de que precisas. Ou seja, pensa no que é que precisas de ter (comportamento, característica) para poderes dar o fruto que escolheste. Por exemplo, se o fruto for a paciência, a semente poderá ser a escuta; ou se for a alegria, a semente poderá ser o sorriso.
O animador arranjará uma semente para cada elemento do grupo, ou algo que simbolize uma semente. Deverá ser algo pequeno, que caiba no porta-moedas, mas não tão pequeno que se perca com facilidade.
Esta semente deverá andar sempre
contigo. Lembra-te que somos sempre na medida em que sabemos desenvolver os
talentos (ou sementes) que nos deram.
Texto 2 – Do Evangelho de São Marcos (Mc 4, 3-8.14-20)
«Escutai: o semeador saiu a semear. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho e vieram as aves e comeram-na. Outra caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra e logo brotou, por não ter profundidade de terra; mas, quando o sol se ergueu, foi queimada e, por não ter raiz, secou. Outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, sufocaram-na, e não deu fruto. Outra caiu em terra boa e, crescendo e vicejando, deu fruto e produziu a trinta, a sessenta e a cem por um.» E dizia: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça.» O semeador semeia a palavra. Os que estão ao longo do caminho são aqueles em quem a palavra é semeada; e, mal a ouvem, chega Satanás e tira a palavra semeada neles. Do mesmo modo, os que recebem a semente em terreno pedregoso, são aqueles que, ao ouvirem a palavra, logo a recebem com alegria, mas não têm raiz em si próprios, são inconstantes e, quando surge a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, logo desfalecem. Outros há que recebem a semente entre espinhos; esses ouvem a palavra, mas os cuidados do mundo, a sedução das riquezas e as restantes ambições entram neles e sufocam a palavra, que fica infrutífera. Aqueles que recebem a semente em boa terra são os que ouvem a palavra, a recebem, dão fruto e produzem a trinta, a sessenta e a cem por um.»
Semana III – A raiz
Leituras: Ex 20, 1-17
1 Cor 1, 22-25
Jo 2, 13-25
Depois de plantarmos uma semente em boa terra e de a regarmos, ela começa a desenvolver-se e nasce uma raiz. A raiz é algo de importante numa árvore: é através da raiz que a árvore se alimenta e é também a raiz que sustenta a árvore – uma raiz muito pequena, nunca poderá dar uma grande árvore!
Quais são as tuas raízes? Em quê ou quem é que te apoias quando as coisas se tornam difíceis? Do quê ou de quem é que precisas para dar os teus frutos?
Em forma de raiz, escreve as tuas raízes em papel de cenário (ou no material em que decidires fazer a tua árvore).
Texto 3 – Do livro do Génesis (Gn 12, 1-5)
O SENHOR disse a Abrão: «Deixa a tua
terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar.
Farei de ti um grande povo, abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás
uma fonte de bênçãos. Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei
aqueles que te amaldiçoarem. E todas as famílias da Terra serão em ti
abençoadas.» Abrão partiu, como o SENHOR lhe dissera, levando consigo Lot.
Quando saiu de Haran, Abrão tinha setenta e cinco anos. Tomou Sarai, sua
mulher, e Lot, filho do seu irmão, assim como todos os bens que possuíam e os
escravos que tinham adquirido em Haran, e partiram todos para a terra de Canaã,
e chegaram à terra de Canaã.
Semana IV – O tronco
Leituras: 2 Cr 36, 14-16.19-23
Ef 2, 4-10
Jo 3, 14-21
Depois de ganhar raízes, as árvores começam a crescer, e surge o tronco. O tronco diz-nos muito acerca da “resistência” de uma árvore: um tronco largo aguenta melhor as tempestades, chuvas e qualquer agressão externa que um tronco estreito.
E a ti, o que é que te dá força e segurança? Escreve-os no tronco da tua árvore.
Texto 4 – Do livro dos Atos dos Apóstolos (At 1, 8)
Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo.»
Texto 5 – “Parábola dos sete vimes” (de Trindade Coelho)
Era uma vez um pai que tinha sete filhos. Quando estava para morrer, chamou-os todos sete e disse-lhes assim:
- Filhos,
já sei que não posso durar muito; mas antes de morrer, quero que cada um de vós
me vá buscar um vime seco, e mo traga aqui.
- Eu também? – perguntou o mais pequeno, que tinha só 4 anos.
- Tu também – respondeu o pai ao mais pequeno.
Saíram os sete filhos; e daí a pouco tornaram a voltar, trazendo cada um seu vime seco. O pai pegou no vime que trouxe o filho mais velho e entregou-o ao mais novinho, dizendo:
- Parte esse vime.
O pequeno partiu o vime sem lhe custar nada; e partiu, um a um, todos os outros, que o pai lhe foi entregando, e não lhe custou nada parti-los todos.
Partido o último, o pai disse outra vez aos filhos:
- Agora ide buscar outro vime e trazei-mo.
Os filhos tornaram a sair, e daí a pouco estavam outra vez ao pé do pai, cada um com seu vime.
- Agora dai-mos cá – disse o pai.
E dos vimes todos fez um feixe, atando-os com um cordel. E voltando-se para o filho mais velho, disse-lhe assim:
- Toma este feixe! Parte-o!
O filho empregou quanta força tinha, mas não foi capaz de partir o feixe.
- Não podes? – perguntou ele ao filho.
- Não, meu pai, não posso.
- E algum de vós é capaz de o partir? Experimentai.
Não
foi nenhum capaz de o partir, nem dois juntos, nem três nem todos juntos. O pai
disse-lhes então:
– Meus filhos, o mais pequenino de vós partiu sem lhe custar nada os vimes, enquanto os partiu um por um; e o mais velho de vós não pôde parti-los todos juntos: nem vós, todos juntos, fostes capazes de partir o feixe. Pois bem, lembrai-vos disto e do que vos vou dizer: enquanto vós todos estiverdes unidos, como irmãos que sois, ninguém zombará de vós, nem vos fará mal, ou vencerá. Mas logo que vos separeis, ou reine entre vós a desunião, facilmente sereis vencidos. Acabou de dizer isto e morreu – e os filhos foram muito felizes, porque viveram sempre em boa irmandade ajudando-se sempre uns aos outros; e como não houve forças que os desunissem, também nunca houve forças que os vencessem”.
Semana V – Os ramos
Leituras: Jer 31, 31-34
Hebr 5, 7-9
Jo 12, 20-33
Os ramos de uma árvore são a sua possibilidade de chegar mais longe, mais alto, de tocar até o Céu, quem sabe? São a sua extensão para poder chegar aos outros, tocar outras árvores.
E tu? Como podes chegar mais longe? Até Deus, até aos outros? Até onde queres chegar?
Escreve isso nos teus ramos!
Texto 6 – “Vai…” (de Paulo Geraldo)
Para sonhar o que poucos ousaram sonhar.
Para realizar aquilo que já te disseram que não podia ser feito. Para alcançar a estrela inalcançável.
Essa será a tua tarefa: alcançar essa estrela. Sem quereres saber quão longe ela se encontra; nem de quanta esperança necessitarás; nem se poderás ser maior do que o teu medo. Apenas nisso vale a pena gastares a tua vida.
Para carregar sobre os ombros o peso do mundo. Para lutar pelo bem sem descanso e sem cansaço.
Para enxugar todas as lágrimas ou para lhes dar um sentido luminoso.
Levarás a tua juventude a lugares onde se pode morrer, porque precisam lá de ti. Pisarás terrenos que muitos valentes não se atreveriam a pisar. Partirás para longe, talvez sem saíres do mesmo lugar.
Para amar com pureza e castidade.
Para devolver à palavra “amigo” o seu sabor a vento e rocha.
Para ter muitos filhos nascidos também do teu corpo e – ou – muitos mais nascidos apenas do teu coração.
Para dar de novo todo o valor às palavras dos homens. Para
descobrir os caminhos que há no ventre da noite. Para vencer o medo.
Continuarás quando os teus braços estiverem fatigados. Olharás para as tuas cicatrizes sem tristeza. Tu saberás que um homem pode seguir em frente apesar de tudo o que dói, e que só assim é homem.
Para ir mais além. Para passar cantando perto daqueles que viveram poucos anos e já envelheceram. Para puxar por um braço, com carinho, esses que passam a tarde sentados em frente de uma cerveja.
Dirás até ao último momento: “ainda não é suficiente”. Disposto a ir às portas do abismo salvar uma flor que resvalava. Disposto a dar tudo pelo que parece ser nada. Disposto a ter contigo dores que são semente de alegrias talvez longe.
Para tocar o intocável. Para haver em ti um sorriso que a morte não te possa arrancar. Para encontrar a luz de cuja existência sempre suspeitaste.
Para alcançar a estrela inalcançável.
Semana VI (Ramos) – As folhas
Leituras: Is 50, 4-7
Fl 2, 6-11
Mc 14, 1-15, 47
As folhas são algo de efémero numa árvore. Quando chega o Outono, secam, mudam de cor e caem, para que na Primavera seguinte outras possam nascer.
Quais são as folhas que em ti precisam de cair e dar lugar a outras melhores?
Depois de cada um partilhar o que são as suas “folhas”, o animador dá uma folha de árvore a cada elemento, e cada jovem solta a folha e deixa-a voar.
Texto 7 – “Folhas secas” (de Mirlane Garcia)
Ah! se viver fosse fácil não teríamos tantas dores e problemas espalhados em todos os cantos do planeta.
A dor visita cada pessoa com tarefas que as vezes, a primeira vista, parecem injustas demais, mas que acabam sendo necessárias para o amadurecimento do ser humano.
Problemas são como as folhas de uma árvore imensa que sempre vão cair, de uma maneira ou outra, num ciclo sem fim. O que muda é a forma como recolhemos essas folhas, ou como tratamos os problemas, pois muitas vezes deixamos as folhas acumularem-se pelo chão, sem dar importância devida ao monte que se vai formando, e quando vemos, as folhas já tomaram conta do chão, dos cantos, frestas e até dos quintais vizinhos.
Junta as folhas diariamente, encara os teus problemas e resolve-os, removendo o que não serve mais, separando o que é importante do que não é.
Folhas muito secas podem ser queimadas
rapidamente, assim como os problemas pequenos, que muitas vezes damos
importância demais, aumentando-os sem ao menos pensar numa solução, paralisados
pelo medo.
Não esperes o Outono chegar e derrubar todas as folhas de uma vez, mantém o teu jardim da vida sempre limpo, cultiva flores (optimismo), rega com bom humor, espalha as sementes (caridade) por todos os jardins, e recebe da própria natureza os lucros de sua dedicação: cheiro de terra molhada, cores e perfumes das flores, frutos que alimentam e paz que preenche o espírito.
Problemas são folhas de árvores, tu é o jardineiro e Deus o semeador da vida, e a vida pede cuidados diários.
No fim da caminhada, não deixes o teu fruto perdido.
Coloca-o em lugar de destaque, de forma que te recordes sempre o que escolheste ser. E não te esqueças de frutificar!