Paramos pouco para refletir sobre o sentido de certas palavras ou termos que habitualmente usamos. Estes acabam nos surpreendendo, não só pela origem pitoresca, mas igualmente pela lição de vida que muitas vezes contêm. Um exemplo: rolo. Quantas vezes dizemos: “estou no maior rolo, minha vida está enrolada” ou simplesmente exclamamos: “ah, que rolo!”.
Quase tão antiga como a arte de escrever, essa palavra nos remete à origem do próprio papel ou à inexistência dele. Por muitos séculos escreveu-se em lascas de pedras, lâminas de chumbo, casca de árvores (ah, isso nós já o fizemos, desenhando aquele coração flechado e o nome da amada ou do amado ao lado do nosso, não é mesmo?) e até em tijolos especiais, previamente preparados como rústicos cadernos escolares daquela época. Tudo muito primitivo.
Mas, na África, existia um país considerado berço da cultura e da civilização, cujo papel histórico foi além da grandiosidade piramidal de suas estruturas sociais: inventou o próprio papel. A abundância de um vegetal às margens do rio Nilo, o papiro, possibilitou aos egípcios a construção de barcos mais leves e velozes, a confecção de cordas e calçados e, por fim, o papel. Estendiam seu miolo em camadas sobrepostas, de forma longitudinal, e sobre suas folhas era possível escrever.
Daí o nome: folha de papel (papiro). Sobre essas tiras, ligadas umas às outras, atavam varetas em suas extremidades, que serviam para enrolar o volume. Nelas registravam as obras de seus filósofos, pensadores e poetas, além das leis e preceitos religiosos que regiam suas tradições. Depois enegreciam as bases daquele “volume”, colocavam um rótulo de couro com o nome da obra e o mergulhavam por inteiro em óleo de cedro, para melhor conservá-lo. Tinha-se, assim, mais um volume literário, cujo conteúdo se lia com uma das mãos desenrolando suas páginas, enquanto a outra enrolava o que se tinha lido. Portanto, ler um livro era desenrolar o volume.
Ainda a título de reflexão, aqueles povos também faziam uso de pequenas cadernetas, ou seja, tabuinhas de madeira branca, perfuradas com um ponteiro tipo estilete (origem da palavra estilo), que, amarradas uma às outras, formavam o códice, hoje códigos, itens de normas e leis que regem nosso comportamento social. O pergaminho – que surgiu em Pérgamo, Ásia Menor – também era enrolado como os manuscritos egípcios, só que fazendo uso de peles finas, tais como as de carneiro. Isso porque, temendo que a cultura asiática sobrepujasse a cultura egípcia, Ptolomeu, rei do Egito, proibiu a exportação do papiro. Já naquela época!…
Curiosamente, os diplomados dos tempos modernos recebem com ostentação seus pergaminhos, os famosos “canudos” que orgulhosamente desenrolamos para pendurá-los em nossas frias paredes. Sem sequer imaginar as razões, origens e significados ocultos na história de um simples pedaço de papel!
Ah, que rolo! Porém nada confuso, nada misterioso, mas talvez desconhecido, desvalorizado. Eis o sentido daquilo que julgamos ser início ou instrumento dos muitos conflitos e confusões em que nos metemos. Rolo, um livro fechado, um conteúdo desconhecido, uma lei ignorada! Eis o que é. Portanto, ler, decifrar, compreender, por em prática o que aprendemos, é o que necessitamos para uma vida mais saudável, feliz. Pois se desejarmos uma vida sem conflitos, sem confusões que tolham nossos relacionamentos, nossos projetos e objetivos, basta-nos abrir mentes e corações para o conhecimento das maravilhas que nos cercam. Leia mais, e você vai desenrolar sua vida. Aliás, a primeira referência do ministério de Jesus na Terra, fala dessa atitude: “Desenrolando o livro, Ele começou a ensinar”…