“Sem a cruz não se compreende a ressurreição. A cruz de Cristo é a palavra com a qual Deus respondeu ao mal do mundo. Algumas vezes nos parece que Deus não responde, que fica em silêncio. Na realidade, Deus já falou, respondeu, e a sua resposta é a cruz de Cristo: uma palavra que é amor, misericórdia, perdão. Esta palavra é também a resposta dos cristãos ao mal que continua a agir em nós e ao nosso redor. Os cristãos devem responder ao mal com o bem, pegando para si a cruz, como Jesus. Não tenham medo. Não temam. Porque a lógica do amor é liberdade”[1].
Com essas palavras do Papa Francisco inicamos nossa reflexão neste tríduo pascal com um questionamento muito profundo: “Qual é a lógica de Cristo?”
No dia em que celebramos a Ceia do Senhor, isto é, a “instituição da Eucaristia”, em torno da qual e dos demais sacramentos “toda a vida litúrgica da Igreja gravita”[2], somos convidados a contemplar cada gesto concreto de amor que Nosso Senhor realizou para com os seus, e ordenou que assim o fizessem também.
Para tanto, é preciso compreender primeiro a “medida” que Nosso Senhor se baseou. Qual a lógica de Cristo? A lógica de Cristo é o Amor, a lógica de Cristo é a Cruz!
“Temos de reconhecer, pois, que a doutrina da Cruz não se encontra à superfície do mundo, pois a superfície das coisas é meramente brilhante, e a Cruz é triste. É uma doutrina escondida, encontra-se sob um véu. Amedronta-nos à primeira vista, e sentimo-nos tentados a revoltar-nos contra ela. Tal como São Pedro, exclamamos: Que Deus não o permita, Senhor! Isto não te acontecerá! (Mt 16,22). No entanto, é uma doutrina verdadeira, pois a verdade não se encontra à superfície das coisas, mas nas suas profundezas.”[3]
De fato, caríssimos irmãos e irmãs, para se contemplar e viver o Amor de Cristo que se doa livremente, não é possível ter um olhar “raso”. O Amor verdadeiro não se encontra nas superfícies deste mundo. Não estamos a falar de um amor banalizado, mas de um Amor que se faz em atitudes concretas. Jesus não parou em teorias, caríssimos irmãos, Jesus agiu concretamente, porque o Amor vai sempre além!
O Amor de Cristo foi além dos limites de Pedro. O Amor de Cristo foi além da traição de Judas. O Amor de Cristo foi além de si mesmo, além da morte, além da cruz!
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
[1] Papa Francisco, em “A lógica do Amor”.
[2] C.I.C. n.1113
[3] Cardeal Newman, A cruz de Cristo, medida do mundo.