Às vezes, elaboramos uma imagem de Deus um pouco distorcida da realidade. Há quem o veja como um Deus severo, que castiga o tempo todo e se mantém distante… Há quem o sinta como um pai permissivo, que “tem” de realizar, indistintamente, todos os desejos de um filho, como se fosse quase uma obrigação atender a um pedido. Além dessas mais comuns, já vi várias outras ideias deturpadas a respeito do Senhor. Essas construções podem vir de uma série de fatores como o relacionamento com nossos pais ou com alguém que foi para nós referência de autoridade; podem vir de uma ideia de religião que nos foi passada de modo errôneo, enfim, são originadas de causas variadas. A questão que queremos colocar aqui é que, seja de que ordem for, a imagem que temos de Deus vai definir a forma com a qual nos relacionamos com Ele nas diversas situações, principalmente nas adversidades.
Diante de uma situação difícil, podemos achar que o Senhor tem a obrigação de nos atender da forma que queremos. Nutrimos uma falsa esperança de que Deus “tem que fazer” e que “tudo dará certo”, considerando sempre que não deveremos sofrer. Outras vezes, podemos acreditar que o Senhor está nos castigando e tudo o que acontece de ruim é Deus quem está nos fazendo pagar por algo, como se Ele estivesse de plantão a nos condenar.
Quem é Deus para você?
Neste tempo atípico que estamos vivendo devido à pandemia da covid-19, pensamentos como esses e tantos outros podem surgir devido às distorções sobre a pessoa de Deus. O que nos desafia, no entanto, é o fato de que, sendo Ele, Onipotente e Onipresente, Senhor de todas as coisas, não nos cabe entendê-lo com nosso raciocínio humano. Apenas ajudados pela Sagrada Escritura e pelo Magistério da Igreja é que podemos, com a Luz do Espírito Santo, construir uma ideia mais próxima daquilo que Deus é; e ainda assim, haverá o que nos aprofundar porque haverá sempre uma parte do Senhor que é um mistério para nós. Mas, tudo o que precisamos saber sobre Deus, para não nos perdermos em visões deturpadas, já nos foi apresentado por Jesus e resumido com clareza em I Jo. 4, 8: “… Deus é amor.” Ele é um Pai de Amor que acolhe e também corrige, que dá e às vezes tira, porque tudo fará para o nosso bem, ainda que nos cause uma dor inicial.
Esse Deus Amor foi também apresentado por São Paulo como “o Deus da Esperança que nos enche de toda alegria e de toda a paz…para que, pela virtude do Espírito Santo transbordeis de esperança”(Rm 15,13). Foi esse mesmo Deus que, no Antigo Testamento, se apresentou a Moisés, quando esse lhe pediu: ” O Senhor passou diante dele, exclamando: “Senhor, Senhor, Deus compassivo e misericordioso, lento para a cólera, rico em bondade e em fidelidade, que conserva sua graça até mil gerações, que perdoa a iniquidade, a rebeldia e o pecado, mas não tem por inocente o culpado…” (Ex. 34, 6-7b). Neste texto, podemos verificar que, em Deus, cabe justiça e misericórdia, bondade, fidelidade e correção. Tudo isso para nos salvar e porque Ele nos ama.
Nessa visão menos reducionista do Senhor, devemos constatar que, para cada situação, Ele tem uma resposta adequada e ordenada à nossa salvação. Se hoje sofremos ou passamos por uma dor permitida por Deus, certamente haverá um motivo muito maior e algo melhor depois dela. Ou, se uma situação não foi consentida pelo Senhor, com certeza, estando n’Ele, iremos vencer. Esperar n’Ele é sempre a melhor opção que poderemos fazer.
É na intimidade que conhecemos o Senhor
São várias as passagens bíblicas que nos fazem entender um pouco mais sobre a pessoa de Deus. E é na intimidade com ele que iremos descobrir a delicadeza de sua presença e a grandeza de seu amor. Impressiona o fato de um Deus tão grande querer se relacionar conosco, principalmente em nosso íntimo. Essa sensação de não estarmos sós e de sermos cuidados é o que nos fortalece para qualquer desafio.
Na intimidade com o Senhor, também vamos tocar na chamada graça atual que é a intervenção de Deus em nosso interior, a fim de crescermos em santidade. Essa graça também nos permite não nos (des)esperar e nos ajuda a entender que o que mais precisamos não são os bens temporais ou dons materiais.
Antes de pedirmos graças materiais ou perdermos a esperança por conta daquilo que ainda não alcançamos, esforcemo-nos para conhecer em quem pomos a nossa esperança (Cf. I Tm 1,12). Não percamos a fé reduzindo a pessoa de Deus ou tentando instrumentalizar nossa relação com Ele, apenas para alcançar coisas. Também não tenhamos medo de nos aproximar desse Senhor que é doce e santo. Como Paulo (I Tm 1,12), estejamos certos de que Ele é “assaz poderoso” para guardar a nossa fé até o fim. E, como Moisés, peçamos a Deus que nos mostre a Sua face. Desse modo, não haverá situação que nos possa vencer.
Elane Gomes
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