A liturgia do segundo domingo de Advento constitui um veemente apelo à conversão, ao reencontro de cada um de nós com Deus. Por sua parte, Deus está sempre disposto a oferecer a todos um mundo novo de liberdade, de justiça e de paz; mas esse mundo só se tornará uma realidade quando cada um aceitar reformar o seu coração, abrindo-o aos valores de Deus.
Neste segundo domingo do Advento encontramos apoio nas vozes dos profetas Isaías e João Batista, os quais nos convidam a preparar os caminhos do Senhor. Pelo nosso testemunho de fé e nossa alegre esperança, podemos mover os corações dos homens e das mulheres de nosso tempo, para que se voltem ao Senhor, que vem ao nosso encontro.
Na primeira leitura – Is 40,1-5.9-11, um profeta anônimo da época do Exílio garante aos exilados a fidelidade de Deus e a sua vontade de conduzir o Povo – através de um caminho fácil e direito – em direção à terra da liberdade e da paz. Ao Povo, por sua vez, é pedido que dispa os seus hábitos de comodismo, de egoísmo e de autossuficiência e aceite, outra vez, confrontar-se com os desafios de Deus. O profeta Isaías canta para o povo de Israel exilado a expectativa jubilosa da salvação que está para chegar. Nesse trecho, o povo é exortado a preparar-se para a vinda do Senhor que se apascentará e reunirá seu povo como cordeiros, “carregando-o no colo”(Is 40,10-11).
O povo deve se instruir e preparar o caminho do Senhor. “Caminho no deserto” pode significar tanto a estrada geográfica desde a Babilônia até Jerusalém quanto o próprio coração desertificado pela desesperança, pela sombra da morte, pela violência e pela desobediência às orientações divinas. “Preparar o caminho” é promover a igualdade, a solidariedade e a justiça: “Nivelem-se todos os vales, rebaixem-se todos os montes e colinas; endireite-se o que é torto e alisem-se as asperezas”.
NoEvangelho – Mc 1,1-8 –, João Batista convida os seus contemporâneos (e, claro, as pessoas de todas as épocas) a acolher o Messias, aquele que traz a Boa Notícia da salvação. A missão do Messias – diz João – será oferecer a todos esse Espírito de Deus que gera vida nova e permite viver numa dinâmica de amor e de liberdade. No entanto, só poderá estar aberto à proposta do Messias quem tiver percorrido um autêntico caminho de conversão, de transformação, de mudança de vida e de mentalidade. João Batista aparece “no deserto”, preparando o povo para a vinda do Messias Salvador. Vivia de forma austera e testemunhava a chegada do Maior, aquele que veio para “lavar” os pecados da humanidade com o Espírito Santo.
Asegunda leitura – 2Pd 3,8-14 – aponta para a parusia, a segunda vinda de Jesus. O Senhor cumprirá a sua promessa e retornará. Usando de paciência, Deus espera nossa conversão, para que venha novamente ao nosso encontro e perpetue sua promessa de novos céus e nova terra, “onde habitará a justiça”.
Nós não devemos nos envolver com os adversários pela demora da parusia. Ao contrário somos convidados a abandonar tudo o que não combine com o Evangelho. É inútil tentar prever a vinda do Senhor, pois Ele chega de repente, como um ladrão. Enquanto espera, a comunidade é convidada a se converter e a trabalhar para que a justiça concretize o sonho de novos céus e nova terra.
Convida-nos à vigilância, isto é, a vivermos dia a dia de acordo com os ensinamentos de Jesus, empenhando-nos na transformação do mundo e na construção do Reino. Se os crentes pautarem a sua vida por esta dinâmica de contínua conversão, encontrarão no final da sua caminhada terrena “os novos céus e a nova terra onde habita a justiça”.
A liturgia deste domingo nos chama, com João Batista, à conversão; assim, colabora para que o Messias se manifeste e provoque o surgimento de uma nova sociedade. Aderir a esse apelo significa dispor-se a fazer parte da missão de transformar a sociedade injusta em sociedade fraterna e solidária. Jesus continua sendo paciente para conosco e nos consolando em nossas aflições. Ele nos revela a sua bondade e nos fortalece na esperança de novos céus e nova terra, onde habite a verdadeira justiça.
+ Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá, PR