A humanidade ensoberbeceu-se tanto que já não enxerga os limites que o próprio nariz lhe aponta. Como indivíduos se bastam; como raça se dizem reis, mas como criaturas arrogam-se no direito de sobrepor à ação do próprio Criador. São deuses sem divindade, divinos em suas capacidades, mas ridículos na compreensão dos mistérios que cercam suas existências. Nada se lhes opõe, mas tudo desafia os limites, os mistérios, a razão do existir. Confuso tudo isso?
Nossa sabedoria é tão pretenciosa que sequer admite um desespero de causa, uma teoria clara e objetiva que nos explique definitivamente a razão do existir. Somos por demais avessos a tudo que possa inibir nossos conceitos ou frear nossa liberdade de ação. O ensinamento religioso entra nessa história com a necessidade da salvação humana. À sabedoria que pensávamos ter contrapõe o pecado, o limite da liberdade. Esse nos revela outra necessidade, a ingênua candura da alma humana e seu desespero de salvação.
O dom do entendimento nos aponta talentos múltiplos, capazes de burlar as leis que impõem limites, tanto no campo físico quanto espiritual. Achamo-nos senhores e diretores do próprio nariz, donos de nossas verdades, guias únicos de nosso existir, com a presunção de pensar que o pouco ou nada que fazemos de bom na vida já nos garante a eternidade. Exatamente essa presunção de salvar-se é o contraponto ao dom do entendimento. Não entendemos nada daquilo que Deus nos propõe.
O que nos falta é um Bom Conselho. Por negar a verdade da nossa realidade espiritual estamos fadados a uma vida sem maiores ambições que aquelas da realidade terrena. Deixamos de lado as revelações divinas ao longo da história, em especial aquelas que o Divino Mestre nos trouxe, autenticou com sua vida e selou com a infusão de seu Santo Espírito. Aconselhar-nos mutuamente também é uma forma de nos conciliar com a realidade espiritual da vida humana, nunca negar essa verdade. Daí nosso discipulado.
Mas a inveja das graças concedidas a outrem enfraquece a fortaleza da fé. Tende sempre a um mal maior, que destrói nossa capacidade de amar sem outro interesse que não seja a fraternidade pura e simples. A inveja matou Abel e plantou na história humana a fraqueza do pecado contra aquele que nos é igual. Tirou-nos nossa maior graça, o dom do respeito humano, nossa fortaleza.
Isso tudo propiciou a obstinação no pecado. Desprezamos o dom da Ciência de Deus, exatamente aquele que nos capacita a experimentar o verdadeiro Amor que flui do coração do Pai e inunda o coração humano sedento de sua Graça. Quem não valoriza em sua vida uma experiência com Deus, está aceitando Satanás e sua ignorância. A ciência dos homens sem a Ciência de Deus é temerosa, pecaminosa.
O pior dessa história toda é a impenitência final. Apesar de nos dizermos respeitosos, piedosos em nossas práticas e devoções, nossa piedade é capenga. O pecado da arrogância humana é sua impiedade latente, sua presunção de se achar dono do universo, mas não se penitenciar diante das fraquezas que lhe são próprias. Assim nos deparamos com a ausência do grande dom, o último deles, o Temor a Deus. A esse não se coloca um contraponto, o obstáculo de nossos pecados. Esses não ferem só nossos corpos, mas lançam alma e corpo no fogo da derrota, em oposição ao fogo do Espírito. Este, só este, é capaz de nos revelar a alegria do nosso Temor. Contra o Espírito não se pratica um sétimo pecado, pois o Sétimo Dom dispensa nossas afrontas. Até o Diabo o aceita. Também ele é temente a Deus…
PS: Para melhor entender, descubra neste artigo os seis pecados contra o Espírito e os sete dons que Dele recebemos.
WAGNER PEDRO MENEZES
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