Após o nascimento do meu terceiro filho eu lutava, como muitas mulheres, contra a depressão pós-parto e a ansiedade. O sofrimento mental, que me seguia até as tarefas diárias da minha vida, me obrigou a procurar ajuda e olhar para os hábitos da minha mente.
Em conversas com conselheiros e amigos, muitos me indicavam o mindfulness . A prática do mindfulness tem-se tornado cada vez mais popular nos dias de hoje.
Não é de admirar que os recursos do mindfulness sejam tão solicitados: somos inundados de tragédias 24 horas por dia e não conseguimos processar tudo. Cada vez mais deixamos de viver em nossos próprios corpos e vivemos em nossos guetos.
Quando comecei a praticar mindfulness – sentada silenciosamente com os olhos fechados, deixando meus pensamentos irem embora – eu estava à procura de paz e calma. Mas logo percebi que não era o suficiente para mim. Eu queria uma prática espiritual que estivesse enraizada na fé cristã. Comecei a ler alguns escritores católicos, como Henri Nouwen, Richard Rohr, Thomas Merton e santos que viveram vidas contemplativas de oração.
Mas isso era um caminho para mim? Afinal, eu era uma mãe e não uma freira. Eu poderia praticar a oração contemplativa?
O que exatamente é a “oração contemplativa”?
É difícil descrever sucintamente o que é oração contemplativa – há inúmeros livros sobre o assunto. Mas Merton, monge cisterciense do século 20, em seu livro Contemplative Prayer – A Oração Contemplativa, sugere que a oração contemplativa consiste em não pedir coisas a Deus ou mesmo procurar Deus. Ele diz que “meditação e oração contemplativa são… uma maneira de descansar naquele que nós encontramos, que nos ama, que está perto de nós, que vem até nós”.
Quando descobri a oração contemplativa (e em particular a oração centrante), eu estava um pouco assustada. Mas minha prática de oração tornou-se um esforço de não pedir, de fazer como Merton sugeriu e permanecer na presença de Deus, repetindo uma frase, entrando em oração com a intenção de estar com Deus. Foi um desafio, mas a palavra “prática” diz tudo: temos de praticar ao longo do tempo (às vezes 10-20 minutos são suficientes) para que o hábito enraíze em nós durante todo o resto do dia – quando cozinhamos, quando conversamos com nossa família, quando alguém nos irrita, até mesmo quando o trauma ou a dor nos atinge.
Proceda com cuidado
No entanto, há preocupações sobre a “oração centrante”. Alguns críticos temem que seja muito influenciada pelas meditações de religiões orientais. Mas esta não é a minha preocupação. Afinal, o próprio cristianismo tem uma longa história de práticas espirituais. Os santos católicos, os padres do deserto e místicos mais antigos que São Francisco são conhecidos pela contemplação e pela devoção intensa e extrema pelas práticas espirituais da oração, meditação e jejum.
E há outra coisa: a contemplação não é para os fracos de coração.
Em seu livro Franciscan Prayer, Ilia Delio (uma irmã franciscana) escreve que Santa Clara e São Francisco encaravam a contemplação como uma maneira de ver e se mover, de “ver Deus em Cristo com os olhos do Espírito”, a fim de mover em direção a uma “visão da humildade de Deus… Deus humildemente movendo-se para a humanidade”. Para Clara, a contemplação de Deus, e particularmente de Jesus na cruz, significou uma consciência mais profunda da presença de Deus na humanidade e, portanto, uma maior consciência de seu próprio sofrimento.
Quando comecei a praticar a contemplação, eu percebi que não precisava de uma disciplina que me ajudasse a evitar o sofrimento no mundo. Em vez disso, eu precisava de uma prática para me ajudasse a entrar mais profundamente no sofrimento dos outros. Em outras palavras, o que eu descobri ao longo do tempo foi que a oração contemplativa não é simplesmente sobre encontrar a paz. A oração contemplativa tem a ver com ser instigado para que Deus possa nos mostrar a verdadeira realidade.
Antes de começar o seu ministério, São Francisco passou dias em uma caverna nas montanhas perto de Assis; aqueles dias foram utilizados para contemplação e oração, orações tristes e de arrependimento. Francisco deixou-se espiritualmente despido por Deus. Ele descobriu naquela caverna uma realidade mais verdadeira: que Deus vem para a humanidade, sofre conosco e nos chama a amar uns aos outros.
Em última análise, a contemplação me ajudou a começar a descobrir o caminho de Deus, que é um caminho humilde de amor.
A “oração centrante” é uma dentre as muitas práticas contemplativas. Para se ter uma espiritualidade integral, é importante a prática de diferentes tipos de oração e de disciplinas espirituais. Às vezes precisamos de tranquilidade e conforto nas diversas práticas. Mas esse não era o objetivo dos santos e místicos. E esse não é o objetivo da oração contemplativa. A oração contemplativa me levou a um tipo diferente de paz, uma paz que descansa na inquietação do amor verdadeiro de Deus.
Christiana Peterson
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