Acordar cedo diariamente e acompanhar os acontecimentos da cidade e do mundo para seguir ao trabalho inteirado dos principais fatos que poderão nortear diálogos e até talvez decisões importantes. Porém, seguidamente aparece uma confusão de informações que parecem desencontradas, estatísticas que não conferem sendo apresentadas simultaneamente por diversas fontes, notícias que correm velozes viralizando nas diferentes redes sociais. Enfim, tudo parece criar uma poluição de “notícias” no cérebro de quem precisa de informação segura. É ali que no frenesi da velocidade aparecem os canais oportunistas e sensacionalistas roubando o qualificado espaço da mídia para afirmar que “chegou antes” com a informação precisa e “imparcial”. Muitas vezes informações obscuras, duvidosas e capciosas…
O Papa Francisco em sua mensagem para o 52º. Dia Mundial das Comunicações (dia criado pelo decreto Inter Mirifica do Concílio Vaticano II e, no Brasil, coincide com a Solenidade de Ascensão do Senhor) se soma a tantas reflexões já existentes em Faculdades de Comunicação e Jornalismo e demonstra que a Igreja não se exime desta preocupação que acelera a cada dia mais um olhar para uma leitura crítica da comunicação. O Santo Padre alerta a comunidade cristã para uma atenção maior quanto às informações que são “despejadas” a cada segundo em todos os veículos de comunicação, mas principalmente nos veículos online já que estes são os mais manipulados por todas as classes pela facilidade que hoje os equipamentos eletrônicos oferecem. Pode-se ler revistas, jornais, artigos, opiniões de colunistas, etc, dentro do ônibus, no metrô, na carona de um carro ou táxi e onde possível até andando à pé para o trabalho.
É neste momento que o consumidor de informação pode ser fisgado pela preocupação do tema da mensagem do Papa para este Dia Mundial das Comunicações: as fake News. Esta é uma expressão que começa a ser mais difundida nos últimos anos coma velocidade da informação presente nos jornais e revistas online. Fake News ou “falsa notícia” que fascina o mundo do sensacionalismo e da concorrência pela apresentação da notícia “por primeiro”, muitas vezes com a escora das expressões do “exclusivo”.
O Papa recorda os primeiros capítulos do Gênesis onde a mentira já ludibriava as mentes sem uma avaliação mais apurada e sem espaço para a reflexão e o discernimento correto das ações. Em muitas passagens da bíblia é percebida a “enrolação” nos diálogos a fim de tirar vantagem sobre o outrem ou situação. Há pouco tempo atrás se falava em “…ah isso é fofoca…” daí nos tempos hodiernos o que se percebe é uma nova roupagem a esta fofoca fazendo-a vestir o “modelito” do autor que pretende e, muitas vezes, deve obedecer aos interesses políticos, financeiros, ideológicos e institucionais de determinados veículos de comunicação. A nova fofoca (ou mentira mesmo) – a fake News – agora não anda mais de casa em casa nas horas de folga como se pertencesse à pessoas ociosas que se encontravam para falar assuntos banais sobre coisas e/ou pessoas. Agora ela trilha pelos caminhos da fibra ótica e em velocidade frenética alça milhões de pessoas no simples toque de um teclado ou num touch no smartphone.
O que ainda é mais impressionante é a desfiguração da riqueza dos potentes meios de comunicação, criados para apresentar a verdade da realidade social, política, institucional, econômica e até religiosa de um grupo, cidade ou nação para o mundo. Esta desfiguração cria estigmas naquilo que de mais belo é lançado no mercado: os meios de comunicação. Hoje a desconfiança já entrou no dia a dia dos que consomem a comunicação: “será verdade”? Eis um poder que está perdendo a credibilidade devido a tantas situações de notícias falsas ou falseadas.
Na necessidade de ser veloz na comunicação motivados pela concorrência desleal das agencias de notícias, entram os “infiltrados” dos podres poderes destruidores da verdade, querendo imprimir no consumidor da informação o produto da sua “pseudoverdade”. O que é pior, acabam por legitimar a fofoca virtual como verdade de consumo e criando uma consciência coletiva que começa a desacreditar nas instituições e nas verdadeiras fontes que planejam o trabalho jornalístico com uma arquitetura jornalística que responde estratégias e táticas de trabalho para nunca ferir a ética no processo da construção da informação.
Para os jornalistas educados para buscar a verdade, como afirma o Papa, a faculdade de comunicar percorre passos de um caminho metodológico no cuidado com a observação e análise dos fatos. O processo produtivo/criativo se acelera no intuito de fazer acontecer o processo de divulgação com ética e coerência. O jornalista responsável tem a tarefa de consultar e comparar fontes seguras na construção da informação, afinal ele é um autor para a sociedade consumidora da informação. E o efeito das fake News está tirando a legitimação da verdade e consagrando uma máscara de manchetes que deixam o leitor confuso. O leitor precisa agora ao olhar estatísticas, informações e manchetes se dar ao trabalho de consultar mais que meia dúzia de outras fontes para tentar acreditar em algo que está consumindo para não se deixar influenciar por uma linha de pensamento falseada.
As fake News estão despertando e criando a cultura do ceticismo diante das manchetes apelativas. Muitas manchetes nem conseguem disfarçar com suas LETRAS MAÍUSCULAS e com pontos de exclamação… Algumas fontes de informação chegam a apresentar números de telefone como que imitando fontes de imprensa autêntica de grandes meios, mas percebe-se um “desbotado” na arte da criação de muitas páginas online fakes. É necessário conferir a URL para acreditar na veracidade da informação, daí que se dá o duplo trabalho de quem deveria ter apenas o prazer de receber a informação pura. É necessário ficar atendo ás fontes que os autores do produto “informação” apresentam. Muitas vezes aparecem matérias com fotos reais recolhidas de um passado remoto para tentar comprovar uma notícia inventada fazendo o público acreditar que “saiu agora no jornal”…
Fontes, fotos, evidências, intenções, farsas e muitas vezes até sátiras se transformam em informação desvirtuada da verdade e maculam o que é mais nobre: o trabalho do verdadeiro jornalista educado na verdade e comprometido com a ética. Estórias que são vendidas como histórias para uma sociedade sedenta da informação e que não ser se sentir isolada do mundo. A notícia não é novela e o consumidor de notícia não é sócio da ociosidade que ocupa mentes despreocupadas com a cultura do bem e da paz. Seria muito importante ler e estudar profundamente a mensagem do Papa Francisco para o 52º. Dia Mundial das Comunicações Sociais e assim a colaboração de todos construirá e/ou reformará uma cultura da verdade que liberta e firma a paz sempre na certeza do que o Mestre Jesus falou: “A verdade vos libertará”. Jesus Mestre, Caminho Verdade e Vida e a fonte da perfeita comunicação entre Deus e a humanidade! Que a verdade construa a cultura da paz!
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ