No início do século XIX, morreu um santo que havia sido um apóstolo extraordinário. Hoje o veneramos nos altares com o nome do Beato Diego José de Cádiz. Quando ele pregava, as igrejas ficavam cheias, os parques lotados de pessoas, e verdadeiras multidões o seguiam.
Ele só sonhava em pregar missões populares, porque colheu uma enorme colheita de almas para o Céu. E expressou seus sentimentos em uma carta que parece ter sido escrita por um louco. Ele ouviu falar da morte desastrosa de um pecador público, e escreveu naquela carta as mais absurdas loucuras:
A notícia da morte daquele pecador machucou tanto meu coração que eu desejei descer ao inferno para tirar aquela alma de lá. Minhas entranhas foram desfeitas e não sei o que fazer com o remédio para essa criatura.
Eu gostaria de ser um santo que pudesse obter de meu Deus meus desejos para o bem das almas.
Como o mundo inteiro me parece pequeno! Que vontade de pregar missão no inferno, no limbo e até no céu! Confesso que eles são loucos, mas não posso ir para a mão.
Quantas vezes fico pensando nessas bobagens! Que não quero morrer até o Dia do Juízo, sem deixar o mundo inteiro convertido… Que estando no céu (o que por minhas faltas não mereço), direi a Deus: mas, o que estou fazendo de pé aqui? Permita-me, Senhor; me dê permissão para ir pregar missão; e então passar por tudo, limbo, inferno, e finalmente pregar aos santos do Céu.
Felizmente, este santo missionário reconheceu que tudo isso era loucura e bobagem…
Mas fazem-nos pensar numa realidade da nossa Igreja, que se sente numa missão contínua de salvar tantos irmãos expostos à sua perdição, de expandir o Reino de Deus e de fortalecer os irmãos na fé.
Quando falamos da Missão, nos lembramos da clássica imagem do Padre Missionário que, Crucifixo no peito, entrou na cidade, pregou estrondosamente na igreja paroquial, passou horas e horas no confessionário e terminou tudo com uma Santa Comunhão. interminável em geral.
Eram as famosas Missões, que, não se pode negar, fizeram imenso bem nas cidades.
Mas os costumes sociais modernos deslocaram esse método de Missão, que em outros tempos foi uma forte repulsa que levou muitas almas a Deus. Tendo isso em mente, é assim que os erros de Frei Diego José de Cádiz são entendidos em sua famosa carta.
Hoje não; hoje isso já é raro, embora não tenha se perdido completamente. Hoje é feito de forma diferente, sem chamar a atenção. Hoje são muitas vezes os irmãos leigos, embora sempre sob a direção do sacerdote, que falam aos outros irmãos, exortam-nos, dão testemunho de vida…
E isso se faz nos Exercícios Espirituais, nos Retiros, nos Cursilhos, nos Encontros Juvenis ou Matrimoniais, nas reuniões catecumenais, nas assembleias carismáticas, ou em outras formas novas que sob o impulso do Espírito tenham nascido na Igreja. Esses apostolados tendem a realizar o que as antigas missões faziam: chamar à conversão e renovar a fé das paróquias e das cidades.
Não é estranho, porém, ver ainda como as dioceses organizam missões gerais com equipes de voluntários, que viajam até as últimas aldeias levando a mensagem do Evangelho.
O que vamos Qual é, qual deve ser nossa atitude como católicos diante deste fato da Missão em formas tão diversas? A Igreja muda seus métodos, mas não muda suas metas e objetivos. O objetivo final sempre será a salvação eterna.
Deus nos criou para sua glória eterna, e a Igreja não se deixará levar pelas críticas de alguns, pelos gritos de outros, pelas notícias de muitos, e continuará a pregar a mesma coisa para nós:
Este mundo é provisório;
devemos cumprir nosso dever de santificar o trabalho;
devemos nos esforçar para conseguir o bem-estar de tantos irmãos pobres e necessitados;
muitas coisas devem ser feitas… todas importantes, mas todas subordinadas ao objetivo final: a nossa salvação e a de todos os homens.
Então, a atitude que tomamos é dupla.
Por um lado, somos os primeiros ouvintes da Palavra naquelas formas de Missão que a Igreja tanto nos oferece hoje.
Por outro lado, nos dispomos a ser agentes ativos do apostolado: missionários leigos, escolhidos por Jesus Cristo e delegados pela Igreja.
Isso é para nós um bem imenso. Somos beneficiários do zelo apostólico de muitos irmãos, nossos sacerdotes, religiosos, leigos que receberam da Igreja a missão de levar a todos a mensagem da salvação. Com espírito de fé, descobrimos nele um verdadeiro mimo de Deus que nos ama.
Além disso, todos nós nos estimulamos a levar aos outros aquela salvação que assim nos é derramada. Aqueles que cuidam de nós com sua dedicação abnegada estão nos pedindo, silenciosamente, mas com eloquência, que nos inscrevamos nas obras apostólicas da Igreja. Se alguém se vê com qualidades para ser missionário de uma forma ou de outra, por que negar o próprio Jesus Cristo?…
Como o santo Missionário que escreveu essas loucuras, queremos trabalhar para que todos alcancem a salvação. E sabemos que, agindo dessa maneira, garantimos infalivelmente nossa própria salvação? Não há medo de que alguém que guiou outros para a vida eterna se perca…
Por: Pedro García, Missionário Claretiano