A Semana Santa é o grande retiro espiritual das comunidades eclesiais, convidando os cristãos à conversão e à renovação de vida. Ela se inicia com o Domingo de Ramos e se estende até o Domingo de Páscoa. É a semana mais importante do ano litúrgico, quando se celebram de modo especial os mistérios da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
DOMINGO DE RAMOS – A celebração desse dia lembra a entrada de Jesus em Jerusalém, onde vai para completar sua missão, que culminará com a morte na cruz. Os evangelhos relatam que muitas pessoas homenagearam Jesus, estendendo mantos pelo chão e aclamando-o com ramos de árvores. Por isso, hoje, os fiéis carregam ramos, recordando o acontecimento. Imitando o gesto do povo em Jerusalém, querem exprimir que Jesus é o único mestre e Senhor.
SEGUNDA À QUARTA-FEIRA SANTA – Nestes dias, a liturgia apresenta textos bíblicos que enfocam a missão redentora de Cristo. Nesses dias, não há nenhuma celebração litúrgica especial, mas nas comunidades paroquiais, é costume realizarem procissões, vias-sacras, celebrações penitenciais e outras, procurando realçar o sentido da semana.
Ensina, entretanto, a tradição no Brasil que:
SEGUNDA-FEIRA SANTA – Procissão do Depósito: neste dia, celebra-se o “Depósito de Jesus!”. Os fiéis saem da Igreja Matriz e levam a imagem de Jesus carregando a cruz, chamado de Senhor dos Passos, para uma Igreja onde é pregado o Sermão do Depósito. No dia seguinte, desta Igreja sairá a mesma imagem para o Sermão do Encontro.
TERÇA-FEIRA SANTA – Procissão do Encontro: vamos relembrar neste dia o Encontro de Jesus com Nossa Senhora na Via Crúcis rumo ao calvário. A imagem do Senhor dos Passos sai de uma Igreja e a imagem de Nossa Senhora das Dores sai de outra Igreja e, em um lugar determinado, geralmente para acolher mais fiéis, é pregado o Sermão do Encontro. Nos desencontros da vida, nós devemos sempre encontrarmos com Jesus e Maria.
QUARTA-FEIRA SANTA – Procissão das Dores de Nossa Senhora: neste dia, relembramos as sete dores de Nossa Senhora. Pedimos à Virgem Santíssima que nos ajude a seguir Jesus e viver o Evangelho.
MANHÃ DE QUINTA-FEIRA SANTA – Missa de Consagração dos Santos Óleos: na Catedral Arquidiocesana, por volta das 9h, é presidida pelo Bispo Diocesano a missa de consagração dos Santos Óleos (do Batismo, do Crisma e da Confirmação). O presbitério, reunido em torno do seu bispo próprio, renova as suas promessas sacerdotais e celebra-se a unidade diocesana. É um dia de rezar pelos sacerdotes de nossas comunidades e pelo bispo diocesano. Na medida do possível, façamos o esforço de participar desta missa na Catedral Metropolitana de São Sebastião, na Avenida Chile, no Centro do Rio de Janeiro.
TRÍDUO PASCAL
O ponto alto da Semana Santa é o Tríduo Pascal (ou Tríduo Sacro), que se inicia com a missa vespertina da Quinta-feira Santa e se conclui com as Vésperas da Páscoa culminando com a vigília pascal. Os três dias formam uma só celebração, que resume todo o mistério pascal. Por isso, nas celebrações da quinta-feira à noite e da sexta-feira, não se dá a bênção final; ela só será dada, solenemente, no final da Vigília Pascal.
QUINTA-FEIRA SANTA
Neste dia, celebra-se a instituição da Eucaristia e do sacerdócio ministerial. A Eucaristia é o sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, que se oferece como alimento espiritual. De manhã, só há uma celebração nas dioceses, a Missa do Crisma. Nesta Missa do Crisma, acontece as bênçãos dos óleos: dos catecúmenos e enfermos. E tem a consagração do óleo do santo Crisma. Acontece a renovação das promessas sacerdotais.
Na quinta-feira à noite, celebramos a solene da missa, em que se recorda a instituição da Eucaristia e do sacerdócio ministerial. Nessa missa realiza-se a cerimônia do lava-pés, em que o celebrante recorda o gesto de Cristo que lavou os pés dos seus apóstolos. Esse gesto procura transmitir a mensagem de que o cristão deve ser humilde e servidor.
Nessa celebração, também se recorda o mandamento novo que Jesus deixou: “Eu vos dou um novo mandamento, que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei.” Comungar o corpo e sangue de Cristo na Eucaristia implica a vivência do amor fraterno e do serviço. Essa é a lição.
SEXTA-FEIRA SANTA
A Igreja contempla o mistério do grande amor de Deus pelos homens. Ela se recolhe no silêncio, na oração e na escuta da palavra divina, procurando entender o significado profundo da morte do Senhor. Neste dia, não há missa. À tarde, acontece a celebração da paixão e morte de Jesus, com a proclamação da Palavra, a oração universal, a adoração da cruz e a distribuição da sagrada comunhão.
Na primeira parte, são proclamados um texto do profeta Isaías sobre o Servo Sofredor, figura de Cristo, outro da Carta aos Hebreus que ressalta a fidelidade de Jesus ao projeto do Pai e o relato da paixão e morte de Cristo, do evangelista João. São três textos muito ricos e que se completam, ressaltando a missão salvadora de Jesus Cristo.
O segundo momento é a Oração Universal, compreendendo diversas preces pela Igreja e pela humanidade. Aos pés do redentor imolado, a Igreja faz as suas súplicas confiantes. Depois, segue-se o momento solene e profundo da apresentação da cruz, convidando todos a adorarem o Salvador nela pregado: “Eis o lenho da Cruz, do qual pendeu a salvação do mundo. Vinde, adoremos”.
E o quarto momento é a comunhão. Todos revivem a morte do Senhor e querem receber seu corpo e sangue; é a proclamação da fé no Cristo que morreu, mas ressuscitou. Nesse dia, a Igreja pede o sacrifício do jejum e da abstinência de carne, como ato de homenagem e gratidão a Cristo, para ajudar-nos a viver mais intensamente esse mistério, e como gesto de solidariedade com tantos irmãos que não têm o necessário para viver.
Mas a Semana Santa não se encerra com a sexta-feira, mas no dia seguinte quando se celebra a vitória de Jesus. Só há sentido em celebrar a cruz, quando se vive a certeza da ressurreição.
VIGÍLIA PASCAL
Sábado Santo é dia de silêncio e oração. A Igreja permanece junto ao sepulcro, meditando no mistério da morte do Senhor e na expectativa de sua ressurreição. Durante o dia, não há missa, batizado, casamento, nenhuma celebração.
À noite, a Igreja celebra a solene Vigília Pascal, a “mãe de todas as vigílias”, revivendo a ressurreição de Cristo, a vitória sobre o pecado e a morte. A cerimônia é carregada de ricos simbolismos que nos lembram a ação de Deus, a luz e a vida nova que brotam da ressurreição de Cristo. Fogo novo, círio pascal, anuncio da páscoa, leituras, canto do glória e do aleluia, batizados e renovação das promessas batismais, e comunhão.
Vivamos, intensamente a Semana Santa e caminhemos com Cristo para ressuscitarmos com Ele!
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ