1ª obra de misericórdia: Alimentar os famintos (Mt 25,35)

obras de misericórdia, dar de comer a quem tem fome
Material para catequese
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A fome de pão e a fome de Deus

“O pão nosso de cada dia dá-nos hoje” – Jesus ensinou-nos a dirigir desta forma a nossa oração ao Pai celeste (cf. Mt 6, 9-13; Lc 11, 1-4). A alimentação básica dos povos antigos, como a comunidade judaica, era o pão como alimento principal. Por isso o ato comum de receber o próprio alimento foi indicado pela expressão “comer pão” (Gn 37,25). Assim se expressa a frase aos nossos primeiros pais, depois do pecado: “Comerás o teu pão com o suor do teu rosto” (Gn 3,19) para sublinhar o cansaço que acompanha o trabalho quotidiano. A importância do alimento primordial reflete-se quando nos dirigimos a Deus, pois «ele dá pão a todos os viventes» (Sl 136,25), pois a quem falta pão falta tudo (cf. Am 4,6; Gn 28,29).

A fome – pela necessidade de pão – é característica da experiência do povo de Deus na sua caminhada pelo deserto: “Lembra-te de todo o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer quarenta anos no deserto, para te afligir, para te provar. você e saiba o que está em seu coração: se você observa seus preceitos ou não. Ele te afligiu, fez-te passar fome e depois te alimentou com o maná” (Dt 8,23). Esta difícil e inesquecível prova pela qual passaram os israelitas faz-nos compreender a expressão profética que aponta o significado mais profundo da ‘fome de Deus’: “Vêm os dias em que enviarei fome à terra: nem fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir a palavra de Deus” (Am 8,11).

Junto com a experiência inesquecível da travessia do Mar Vermelho, o maná no deserto para saciar a fome do povo escolhido tem um valor incomparável. Na verdade, o maná é descrito como ‘trigo do céu’, ‘pão dos fortes’ (Sl 78,24), ‘iguaria dos anjos’ (Sb 16,20) e, por sua vez, é visto como um símbolo do ‘ palavra de Deus» (cf. Dt 8,3; Is 55,2-11), dos «ensinamentos da sabedoria» (Pv 9,5) e da própria «sabedoria» (cf. Eclo 15,3; 24,18-20). ).

Por outro lado, a sabedoria é uma característica dos pobres «de facto» e «de espírito», que Jesus proclama como «bem-aventurados», mesmo qualificados como abençoados por tal fome, pois anseiam por justiça (Mt 5,6). Também ressoa a resposta de Jesus à primeira tentação no deserto: “O homem não vive só de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4; Lc 4,4; Dt 8, 3). ).

A este respeito, o apóstolo Tiago deixa clara a atitude de verdadeira convivência fraterna, numa atitude coerente: “De que adianta, meus irmãos, dizeres que tens fé, se não tens obras? aquela fé pode salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiver nu e não tiver comida e um de vocês lhe disser: ‘Vá em paz, aqueça-se e coma bem’, mas você não lhe dá o necessário para o seu corpo, de que adianta isso? Da mesma forma, a fé, se não tiver obras, está morta por dentro” (Tiago 2,14-17). Partilhar o pão com quem não o tem é uma obra de misericórdia corporal, mas é algo elementar na coerência da fé e na participação na Eucaristia.

Todos nós sentimos fome todos os dias e tentamos saciá-la pelo menos três vezes. A recomendação comum dos nutricionistas é: “Tome café da manhã como um rei, coma como um plebeu e jante como um mendigo”, para nos dizer que devemos levar em conta que o maior consumo de energia ocorre durante o dia, principalmente pela manhã. é claro que ao nos prepararmos para dormir devemos diminuir a dose de comida. Porém, a realidade de quem sofre com a fome é muito forte e dolorosa, pois a sente várias vezes ao dia e muitas vezes não a satisfaz plenamente.

Cristo enuncia mais uma vez esta primeira obra de misericórdia corporal com a firme intenção de que ninguém tenha o desejo de comer as migalhas que caem da mesa dos mais ricos, como aconteceu com o pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31). É assim que aprendemos a partilhar tudo o que somos e temos com os nossos irmãos que têm fome.